“Fome de Poder” entrega o que precisa, mas não escapa da direção brega de John Lee Hancock

Você sabia que a cada quatro horas é inaugurada uma nova unidade de McDonald’s no mundo? Ou que todos os dias são servidas cerca de 68 milhões de pessoas, em 119 países, através de 35 mil franquias ao redor do planeta? Você pode até ter seus motivos para não gostar dos lanches e serviços oferecidos pela empresa, mas dificilmente não irá reconhecer a força que a marca McDonald’s tem no mercado.

Agora, se você tem curiosidade de descobrir como um pequeno restaurante acabou se tornando a maior rede mundial de hambúrgueres, estreia essa semana ‘Fome de Poder’, filme que nos permite conhecer toda a engenharia por trás da criação do Mc e do conceito de fast food. O longa é dirigido por John Lee Hancock – você talvez o conheça do drama ‘Um Sonho Possível’, com Sandra Bullock – baseado no roteiro escrito por Robert Siegel (do excelente ‘O Lutador’, com Mickey Rourke).

‘Fome de Poder’ conta a história de Ray Kroc (Michael Keaton), um experiente (e não tão bem-sucedido) vendedor de máquinas de milk-shake e utensílios para cozinhas de restaurantes, que enxerga em um pequeno negócio de dois irmãos a oportunidade de construir um império no ramo alimentício. No entanto, Kroc é um empreendedor egocêntrico e implacável, e seu estilo agressivo passa a gerar conflitos com os humildes e pacientes irmãos.

Se você é alguém que tem um sonho de abrir seu próprio negócio, mas está meio desanimado, ‘Fome de Poder’ é um filme bastante recomendado. A trajetória de Kroc é um exemplo de persistência e determinação. Não à toa, sua rotina diária inclui ouvir um disco de motivação onde o discurso de atitude ensina que ‘um homem é o que ele pensa ser durante todo o dia’. Me fez lembrar a personagem de Annette Bening em ‘Beleza Americana’, que também mergulha no seu mantra motivacional. Ou seja, nesse sentido o filme é muito cativante para sonhadores e empreendedores.

Os eventos ocorridos em ‘Fome de Poder’ são representados de maneira bem fiel ao que realmente aconteceu, sem aqueles comuns ‘exageros’ que muitas adaptações cinematográficas fazem para tentar conquistar o público. O filme se passa nos anos 50 e desde o início vemos um Ray Kroc muito trabalhador, casado, mas insatisfeito com sua vida e principalmente com o péssimo atendimento e demora dos drive-ins, que estavam super em alta na época.

Uma vez tendo contato com o engenhoso sistema do restaurante dos irmãos Dick (Nick Offerman) e Mac McDonald (John Carroll Lynch), Ray não conseguia pensar em outra coisa a não ser em uma rede de franquias, um McDonald’s em cada esquina dos EUA. No entanto, os irmãos McDonald eram extremamente conservadores e já tinham arriscado franquias que não deram certo, por causa do fraco controle de qualidade.

Só que para a sorte de um trabalhador implacável como Ray, ele sabia exatamente como corrigir isso: colocando pessoas motivadas e que realmente tinham algo a perder no comando das franquias. Como o filme mostra, o sucesso foi quase que imediato. Entretanto, outros problemas surgiam. O casamento de Ray se deteriorava cada vez mais e o lucro com o restaurante mal era suficiente para custear suas despesas, já que os irmãos recebiam grande parte ‘sem fazer nada’.

Quem conhece o trabalho de John Lee Hancock sabe que ele não é um dos diretores mais sutis do cinema. Muitas vezes, a mensagem do filme está suficientemente clara, mas ele usa as imagens de maneira hiperbólica, ‘esfregando na cara’ do espectador o que quer expressar com alguma cena. E em ‘Fome de Poder’, ele afeta mais uma vez esse cacoete, como na cena onde uma garota morde um hambúrguer e parece ter um orgasmo, entre outros exemplos. Lembrando que isso não chega a ser um pecado mortal, na verdade é uma questão de estilo, mas é muito brega e demonstra falta de confiança na inteligência do público.

Com exceção desses altos e baixos da direção, ‘Fome de Poder’ é um filme realmente bem feito. A história é bem contada e consistente tanto em humor quanto em drama, há uma boa dose de conflito, que aguça a curiosidade do espectador e principalmente Michael Keaton transmite muita segurança na pele do obstinado empreendedor. Sua atuação energética e implacável lembra bastante seu ótimo trabalho em ‘Birdman’, com um personagem metódico e bem articulado, entretanto, muito apaixonado pelo que faz. Lembrando que o elenco ainda conta com Laura Dern, Linda Cardellini e Patrick Wilson.

Convém mencionar que o discurso que o filme prega pode incomodar algumas pessoas. Cabe ao espectador julgar se as atitudes de Ray foram erradas em algum momento, mas é inegável seu trabalho duro para conquistar o que conquistou. Afinal, estamos falando de ‘McDonald’s’, palavra que bem poderia ser um sinônimo para capitalismo. Muitas pessoas têm medo de arriscar e, no fim das contas, a sorte sempre favorece os destemidos.

Sendo assim, ‘Fome de Poder’ – título que traduz muito bem toda a história do filme – é uma boa adaptação cinematográfica da carreira de um dos maiores visionários e empreendedores do século XX e uma excelente opção para quem quiser saber mais sobre como o ‘império dos hambúrgueres’ começou a ser construído.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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