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‘Eu quero que eles vejam o que eles fizeram com Jackie’.

O jovem chileno Pablo Larraín está em franca evolução na carreira. Desde sua estreia diretorial em 2006, o diretor tem alcançado cada vez mais elogios da crítica internacional. Seus três últimos filmes anteriores a ‘Jackie’ – ‘No’, ‘O Clube’ e ‘Neruda’ – ou foram indicados ao Oscar ou ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. Aqui em ‘Jackie’, Larraín faz uma adaptação baseada no fatídico assassinato do presidente norte-americano John F. Kennedy contada do ponto de vista da primeira dama Jacqueline Kennedy. O filme mostra como Jackie lutou conta o trauma do luto, consolou os filhos e teve que arcar com todas as reponsabilidades, como a cobertura da mídia e o legado do marido. O roteiro é escrito por Noah Oppenheim, do interessante ‘Maze Runner: Correr ou Morrer’.

O projeto havia sido anunciado com Darren Aronofsky na direção, mas após a desistência do diretor de ‘Cisne Negro’ Larraín ficou encarregado da adaptação. E nas mãos de um diretor habituado a trabalhar com temas políticos e pesados como o chileno (vide sua filmografia), o projeto acabou se tornando uma oportunidade fascinante para que pudéssemos conhecer a verdadeira história por trás do cruel assassinato do presidente. Podemos dizer que ‘Jackie’ cumpre a promessa de nos contar a diferença entre o que as pessoas sabem e o que realmente se passou na cabeça da primeira dama nas 72 horas subsequentes ao trágico evento.

Até onde conhecemos, Jackie é lembrada por ser um ícone da moda elegante e gracioso nos anos 60, além de suas contribuições para a arte e preservação da arquitetura histórica. Entretanto, no filme a viúva (brilhantemente interpretada por Natalie Portman) é apresentada como uma mulher forte que precisa lidar com uma situação sem precedentes. Alguém que perdeu tudo em segundos e imediatamente descobriu que o mundo não para de girar. Sendo assim, Larraín praticamente satiriza o lado ‘frílvolo’ de Jackie alternando uma entrevista sincera para um jornalista (Billy Cudrup, em sólida atuação) com um documentário apresentando a nova decoração da Casa Branca, o lar feliz dos Kennedy.

Como ‘Jackie’ é essencialmente um estudo de personagem, o diretor praticamente coloca a câmera no rosto de Natalie Portman e a segue durante todo o filme. E a atriz não decepciona. Além da caracterização física impressionante, Natalie consegue transitar perfeitamente entre as duas facetas da personagem – dissimulada e ao mesmo tempo ingênua -, uma esposa que não quis deixar a historia do marido se apagar no esquecimento. Sem sombra de dúvidas uma das cinco melhores atuações femininas do ano. O elenco de apoio também está excelente, todos cumprindo seus papéis de forma sólida, com destaque para Peter Sarsgaard (como o cunhado de Jackie ‘Bobby’ Kennedy), Greta Gerwig (como a assistente Nancy) e John Hurt (o padre).

Mesmo com todos os elogios, ‘Jackie’ não é um filme para todos. Por mais que seja difícil encontrar algum defeito analisando ‘setor por setor’, convém dizer que a história de Jacqueline Kennedy certamente é muito mais interessante e relevante aos norte-americanos do que pelo resto do mundo. Sendo um tanto condescendente, eu ampliaria esse escopo aos amantes de história, mas mesmo assim a obra não tem a relevância que um documentário teria, por exemplo. O ritmo também é lento, o roteiro verborrágico e a montagem simples, podendo não agradar a alguns espectadores mais impacientes.

Dito isso, nas áreas técnicas voltam os elogios ao filme. A compositora Mica Levi (de ’Sob a Pele’, com Scarlett Johansson) compõe uma das trilhas mais atmosféricas e inquietantes do ano, fazendo jus a sua indicação ao Oscar. Ela cria uma trilha extremamente emocional, mas ao mesmo tempo drástica que descreve tão bem os sentimentos dos personagens que mesmo quando a expressão facial de Jackie aparenta estar bem, sentimos algo drástico, como se algo de muito ruim estivesse para acontecer. E na parte estética, o diretor de arte indicado ao Oscar Jean Rabasse – com auxílio dos figurinos e maquiagem – consegue recriar com fidelidade toda a decoração da Casa Branca, mas com um diferencial: a inserção de elementos expressionistas que ajudam a reforçar o espírito interior da personagem. Destaque para as texturas e a paleta de cores, que evocam simultaneamente beleza e tristeza.

OPINIÃO FINAL: ‘Jackie’ é um filme extremamente bem feito e uma boa oportunidade para quem se interessa por história a conhecer a intimidade de uma das personalidades femininas mais interessantes do século XX. A direção de Pablo Larraín é muito intuitiva (grande parte das cenas foram filmadas em apenas um take), a preocupação da produção em recriar com fidelidade a época e os cuidados com direção de arte e fotografia beiram o impecável. A dupla Larraín/Portman funciona perfeitamente bem, rendendo belíssimos quadros com a câmera bem próxima do rosto da atriz – seja descrevendo o assassinato do marido ou com sua expressão desolada passando pela multidão.

Algumas das imagens mais singelas e impactantes do cinema este ano saíram deste filme – destaque para a incrível cena de Jackie diante de vários túmulos em um cemitério nublado e chuvoso. ‘Jackie’ é uma charmosa biografia que deve muito à sólida direção de Larraín e a seu bom elenco de apoio. Mesmo com um ritmo lento e um roteiro verborrágico, conquista o espectador graças a atuação espetacular de Natalie Portman.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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