No álbum de família de Jonas há um elemento que se repete: o circo. A lona, as roupas coloridas, a maquiagem sempre com muito vermelho e desenhos de coração. Sua mãe trabalhou no circo, assim como sua vó, assim como seu tio… Esse é um filme que fala de Jonas e de seu desejo de se tornar um artista circense. Mas é um filme também sobre infância, sobre nossos sonhos, a pureza e a dureza de se tornar o que você nasceu para ser.

Créditos: Divulgação

O filme começa com Jonas e seus amigos construindo um circo no quintal de casa. O trabalho não é fácil e muito menos uma simples brincadeira de criança, para Jonas tudo tem que estar perfeito. Eles passam o som, ensaiam as coreografias e todos os movimentos, organizam quanto é possível cobrar pelo ingresso (R$1 criança e R$1,50 adulto). Para finalizar os preparativos eles saem na rua e convidam toda a vizinhança, gritam a hora e o local. Todas as suas ações nos trazem aquela boa nostalgia: somos criança novamente.

A forma como Paula Gomes decide mostrar esse menino talentoso e o universo que o rodeia é muito sensível e honesta, a diretora constrói um paralelo entre fazer cinema e trabalhar no circo. Quando Jonas lhe diz que se esse filme não der certo será uma “facada em seu coração”, Paula responde o mesmo sobre se Jonas ficar longe do que mais ama. Nesse momento vemos que ambos estão enfrentando grandes desafios para conseguir o que mais almejam. E assim, o que parece infantil se transforma em trabalho de gente grande. A mãe de Jonas é quem mais se opõe ao menino trabalhar no circo. Primeiro ele precisa estudar, ela afirma repetidas vezes. Mas a escola não é nem de longe interesse do menino de apenas 13 anos.

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Apesar de Jonas ser um menino inquieto, ele aparece em vários planos simplesmente parado, olhando para o além, refletindo. Pensando em coisas que talvez nós mesmos (em nosso conformismo com o cotidiano) nunca tenhamos imaginado. Onde estará a lona do nosso circo? O que devo fazer para conseguir trabalhar com aquilo que está praticamente inscrito no meu DNA? A força deste filme reside justamente no trabalho árduo que é realizar nossos sonhos.

A câmera intimista nos aproxima dessa persona que se constrói na tela, o jovem, percebendo essa aproximação, se transforma em personagem e – às vezes – quando se esquece que está sendo gravado torna-se novamente um menino comum, cheio de sonhos e frustrações quando se dá conta de que a realidade nem sempre é como gostaríamos que fosse. No momento em que sua mãe é levada para visitar o circo do tio de Jonas, vemos em seus olhos a mesma paixão que seu filho possui pelo espetáculo. Logo ela se recorda de quando trabalhou e viveu no circo, porém sua resolução permanece firme: Jonas só poderá estar aqui quando terminar seus estudos, ele deverá traçar um caminho diferente do que toda sua família tem feito. É uma escolha difícil, pesada até mesmo para ela. Mas é como tudo deve caminhar.

Jonas se torna uma celebridade na escola, todos querem saber porque alguém faria um filme sobre ele. E essa questão é feita a todo momento pelo próprio Jonas que, vendo que o circo do quintal da sua casa está prestes a acabar, indaga a Paula porque eles ainda continuam a filma-lo. “Já não tenho mais circo”, ele diz.

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Até mesmo a diretora de sua escola chega a chamar a equipe de filmagem para dizer que não concorda com este documentário por ver que o menino se comporta de maneira completamente diferente quando eles estão a filma-lo. Quando a equipe vai embora, Jonas não “atua” mais, e portanto não estuda, falta às aulas. A questão do que é verdade e o que não é fica então explícita legitimando a essência do que é fazer um documentário.

Mas a história de Jonas não termina quando o filme acaba, afinal ele tem apenas 13 anos. No plano final, com a cabeça recostada e aquele mesmo olhar distante, o menino descobre que o seu mundo e sua vida estão apenas começando.

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