SINOPSE PEQUENA

O simpático filme produzido em parceria Globo Filmes e com a mão de Luciano Huck, coloca na direção mais uma vez o jovem profícuo Fernando Grostein Andrade, meio-irmão de Luciano Huck, elogiado por ‘Quebrando o Tabu’ (2011), um documentário que expôs as questões de consumo, regulação e políticas públicas a respeito da maconha. Em ‘Na Quebrada’, co-dirigido pelo também jovem Paulo Eduardo, temos um roteiro calcado em experiências dele e dos garotos e meninas que conheceu na ONG Criar, salvos de uma forma ou outra de situações cotidianas de periferias paulistanas. O próprio Paulo sobreviveu a um tiro a queima-roupa, e de garoto típico das áreas como Vila Brasilândia ou Heliópolis tornou-se, através do projeto, um cineasta. Dentro das intenções formais deste filme, temos uma clara panfletagem social, não que isto seja negativo nem ao menos novidade.

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Talvez a temporalidade do cinema nacional não favoreça a força do discurso. Desde a retomada, até a divisão ocorrida em ‘Cidade de Deus’ (2002) de como a estética, narrativa deveria ser, com ‘Ônibus 174’ (2002) que detecta o câncer estrutural da corrupção carioca, do estado à polícia, e com ‘Tropa de Elite’ (2007) onde o caminho da droga se liga a classe média e os meandros do poder. Não havendo mais onde transcorrer uma análise social herdada desde Glauber Rocha, nosso cinema se voltou para as quatro paredes com ‘O Som ao Redor (2012) e ‘O Lobo Atrás da Porta’ (2014) onde os problemas psicológicos e de convívio não mais estariam presos a cartilha do materialismo-histórico, aquela que explica o homem pela economia, política e sociedade. Seu interior também é cheio de multiplicidades e escuridão. Desta forma, assim penso que ‘Na Quebrada’, que tem no elenco o talentosíssimo Gero Camillo (Carandiru) e jovens não-atores e detentos reais é não mais que uma bem-intencionada compilação de crônicas da periferia paulistana, com panorâmicas belíssimas da capital caótica.

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A trama se divide nas histórias dos jovens Jorge (Jorge Dias, filho de Mano Brown) e Felipe Simas, que é o auter-ego de Paulo Eduardo, dois amigos das mesmas ruas, com realidades distintas, mas marcados pela violência. Jorge é um filho de traficante, respeitado que está preso e jurado de morte. Quando seu pai é assassinado na cadeia, a dívida passa para a família. Entre muitas outras pequenas aparições de famílias e jovens que entram como parte do enredo, alguns são mau aproveitados, ou não aprofundados, e algumas subtramas não parecem ter tanta importância como se apresentaram.

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O personagem de Gero Camillo é o rústico e terno pai de um dos garotos, onde de longe se vê os melhores momentos dramáticos e cômicos do longa que é uma clara veiculação de mídia das ONGs, e talvez como ode funcione de forma clara, mas como crítica social se atêm a momentos melodramáticos e manipulativos, calcados na boa trilha sonora. O filme é todo formado na base do curta-metragem Cine Rincão, projeto de Luciano Huck as crianças e jovens carentes. Embora se denote talentos brutos por parte do elenco amador, ainda sim falta escopo ao filme feito a quatro mãos. Como drama, uma produção correta e funcional, como cinema de forma maiúscula, Grostein necessitará de tempo e maturidade.

Trailer do filme:

 

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