Presente em todos os dias, o jornalismo se tornou essencial para a vida do homem conforme o tempo. Diante de uma sociedade em constante mudança, essa profissão importante acabou, aos poucos, sendo desvalorizada e ridicularizada, mas nunca perdendo sua importância. Não é para menos. A quantidade de erros e toda a sujeira da imprensa veio à tona, trazendo um questionamento ao leitor sobre a seriedade do texto jornalístico e de toda a sua realidade.

A indústria cinematográfica trata em seus filmes assuntos atuais, através de metáforas ou até mesmo de forma explícita, e com o jornalismo não deixa de ser diferente. Sabemos do heroísmo envolvente do jornalismo e no quanto ele pode mudar o mundo, mas poucos lembram que os erros jornalísticos também podem transformar a humanidade, e o cinema não deixou isso no esquecimento.

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O recente ‘Spotlight’, ganhador do Oscar de Melhor Filme deste ano é marcado pela volta do filme de jornalismo raiz e marcou os escritores do cotidiano com o ato heroico dos repórteres e do editor trazendo aquela sensação de orgulho a profissão escolhida, mas o próprio demonstra a falha jornalística presente nas redações. Baseado na história do caderno de investigação do jornal The Boston Globe, o filme retrata logo em seu início que o próprio jornal tinha falhado em tratar do assunto, que futuramente ganharia importância, apenas como uma simples nota. Pedofilia é um assunto delicado, e envolver religião, torna-o mais delicado ainda, e com todos os dados em mãos, o jornal não percebeu a potência do material que tinha ali. A quantidade de matérias que circulam por uma redação chega a enlouquecer quem trabalha, e em reuniões de pauta é decidido o que de importante e relevante entra ou não no jornal. Assuntos diversos e pressa para finalizar a edição são problemas para um jornalismo de alta qualidade, não é à toa que a matéria final do ‘Spotlight’ é finalizada após meses de trabalho. A nota publicada passa despercebida, esquecida e substituída por notícias e matérias consideradas mais importantes.

A imprensa é controladora e manipuladora, e muitas vezes o exagerado ganha mais atenção e relevância. O sensacionalismo existente no jornalismo nunca é sem intenção ou sem querer, tudo não passa de uma estratégia, tanto da mídia transmissora quanto do próprio repórter ali presente. Dustin Hoffman, em ‘O Quarto Poder’, prova do poder do sensacionalismo e de como o jornalismo passa a formar a visão do público, afinal, esse é o objetivo da profissão, passar a informação, mas fazer o público questionar. Todo o erro jornalístico e sensacionalista é criticado e questionado no filme de 1997, dirigido pelo grego Costa Gravas (Konstantinos Gavras) e mostra ao público toda à sujeira de um jornalismo medíocre e ganancioso, que busca apenas audiência e fama.

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Jornal se tornou mercadoria. Após a entrada da publicidade, jornal acabou se tornando um produto de supermercado. A qualidade caiu, mas o dinheiro que ali entrava era mais importante. A prova de que à fama chega a ser mais importante que a verdade, está no filme de 2003, ‘O Preço de uma Verdade’, onde o personagem vivido por Hayden Christensen é um jovem jornalista a procura de sucesso e prêmios, que chegou a forjar mais de 20 textos, escrevendo mentiras. Não por acaso é ouvir os dizeres: uma mentira bem contada é mais interessante que a verdade. A falha apresentada pode ser do repórter, mas o erro é maior quando tratamos do editor, a figura central que coloca todo o seu valor e sua ética no produto final que vai ao público leitor. Deixar passar mentiras e dados inventados não é apenas um erro individual, mas sim coletivo.

Sensacionalismo e jornalismo acabaram se tornando palavras constantemente relacionadas, mas muito distintas em seu significado. O quão interessante chega a ser para um jornal mostrar o que choca e exagerar ao noticiar o tema? A resposta: muito. A audiência sobe, as vendas crescem e o jornalismo encontra uma solução para lucrar. Não é de hoje que a estratégia existe. ‘Cidadão Kane’, filme de 1941 dirigido por Orson Welles – um dos maiores gênios da comunicação – já mostrou o poder do sensacionalismo em suas primeiras cenas ao retratar as inúmeras publicações da morte do magnata Charles Foster Kane que duraram dias. Além do sensacionalismo demonstrado, Cidadão Kane traz uma discussão muito pertinente: o esquecimento das classes mais baixas e o foco na celebridade, um dos critérios da noticiabilidade. Viajando um pouco no tempo, voltamos para o (não tão) presente, especificamente em 2014, onde temos ‘O Abutre’, com o pirado Jake Gyllenhaal a procura das cenas mais chocantes e chamativas existentes para os jornais, levando o câmera a se tornar um sociopata incontrolável e persistente.

Orson Welles standing on stacks of newspapers in a scene from the film 'Citizen Kane', 1941. (Photo by RKO Radio Pictures/Getty Images)

Foto: RKO Radio Pictures/Getty Images

Torna-se comum encontrarmos jornalistas que procuram o heroísmo. Muitas vezes, a atitude heroica do jornalista acontece naturalmente, durante uma reportagem ou uma matéria, e quando essa atitude é forçada, o erro tende a aparecer. Jornalista não é policial e não é o responsável por substituir o papel da polícia para investigar crimes ou julga-los. O Jornal (1994) e Boa Noite, Boa Sorte (2005) trazem esse questionamento e críticas às telas. Em ‘O Jornal’, comédia estrelada por Michael Keaton temos, além da crítica ao preconceito racial, outros temas como a “ação policial” do jornal são levantados e questionados. Enquanto no drama ‘Boa Noite, Boa Sorte’, é apresentada uma situação mais delicada. Na trama o personagem de David Strathairn tem conflito com o político Joseph McCarthy (vivido por ele mesmo) ao expor suas mentiras e táticas políticas.

Baseado em histórias reais ou roteiros totalmente originais, o cinema procura apresentar e criticar uma realidade existente. O cinema pode apresentar os erros da imprensa, mas não devem esquecer da importância do jornalismo na nossa sociedade, se este for feito de maneira séria e responsável, obviamente.

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