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‘Quando você fala com o outro lado, você nunca sabe quem está ouvindo’.

‘Ouija: A Origem do Mal’ é uma prequência (sequência onde a história se passa antes do filme anterior) de ‘Ouija: O Jogo dos Espíritos’, de 2014. O filme é dirigido por Mike Flanagan, um diretor que tem conquistado cada vez mais espaço dentro do gênero do thriller de terror. Ele escreve o filme juntamente com seu habitual parceiro de roteiro Jeff Howard, e juntos já escreveram filmes como ‘O Espelho’ e ‘O Sono da Morte’, além da nova versão de ‘Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado’, que deve estrear ano que vem. Em ‘Ouija 2’, acompanhamos a história de uma viúva chamada Alice (Elizabeth Reaser, da ‘Saga Crepúsculo’) que passa por dificuldades na Los Angeles do final dos anos 60 para sustentar e cuidar das duas filhas, Pauline (Annalise Basso) e Doris (Lulu Wilson). Para isso, Alice trabalha entrando em contato com o mundo espiritual para ajudar pessoas a se comunicarem com seus entes falecidos, mas após um espírito maligno possuir uma de suas filhas, precisa lutar contra seus medos para tentar restaurar a paz em sua família.

Momento reflexivo: gostaria de entender por que nos filmes as pessoas insistem em querer entrar em contato com os mortos? Será que elas não percebem que estão indo em direção à própria morte fazendo isso? Fim do momento reflexivo. Questionar a relevância de mais um filme com esta temática sobrenatural tão batida acaba sendo um exercício de futilidade, pois os estúdios não vão parar de investir em filmes que são muito ‘baratos’ e geram grandes lucros nas bilheterias, como o próprio ‘Ouija’ anterior, que custou 5 milhões de dólares e arrecadou mais de 103 milhões ao redor do mundo. Sabemos que bilheteria não é sinônimo de qualidade, mas é inegável que para arrecadar tanto dinheiro assim o filme tem que ter algo que as pessoas gostam. Então se você é um daqueles entusiastas do gênero, que consome todo o tipo de filme de terror que surge a cada ano ou é chegado em alguns jumpscares e a sensação de levar alguns sustos no escurinho do cinema, este filme provavelmente não irá te decepcionar. Mas aos amantes de um terror mais ‘clássico’ e psicológico, com paciência na construção dos personagens e o mínimo de coesão na sua trama, é melhor pular este filme para evitar arrependimentos. Vejamos o porquê disso mais à frente.

Para começar, a própria premissa é de certa forma confusa. Uma mãe solteira, com uma casa grande e várias ameaças de despejo, além de duas filhas que estudam em um colégio particular e obviamente têm suas necessidades, tentaria arrumar um emprego fixo ou viver de bicos falando com os mortos (ela ganha cinco dólares por consulta, mesmo na década de 60 isso não era grande coisa)? E mais: para mostrar que a protagonista é de bom coração, ela chega a recusar dinheiro de um cliente, como se estivesse em condições de fazer caridade. Alguns podem alegar ‘que é um filme’ e coisas do tipo, mas mesmo filmes precisam seguir regras plausíveis dentro do seu universo estabelecido. E como a proposta do filme é vender sua história ‘sobrenatural’ acontecendo no nosso mundo ‘real’, de cara já fica difícil imergir na trama e dar um voto de confiança ao drama daqueles personagens. Sendo mais exigente, a própria protagonista é contraditória, pois se você tem duas filhas ingênuas para criar (que estão superando um luto na família) e precisa dar o exemplo a elas, a escolha da profissão que decidiu seguir não poderia ser mais traumática e errada (quem assistir ao filme irá entender melhor, quero evitar spoilers).

Para resumir a questão do problemático roteiro, os três atos têm muitos defeitos, mas sem dúvidas o terceiro é o mais frágil. Muitas pessoas podem relevar as questões mencionadas anteriormente e ainda continuarem envolvidas com a história, mas o filme apresenta ao menos mais duas subtramas que são completamente abandonadas e deixadas sem conclusão, um romance entre Pauline e um garoto do colégio e a relação de proteção e aconselhamento do diretor do colégio (um padre, pra variar, interpretado por Henry Thomas, o garotinho do clássico ‘E.T.’) com Alice e as garotas. Portanto, as ações dos personagens não são desenvolvidas e justificadas, o universo emocional deles é completamente nublado (parece não haver objetivos claros, nem do próprio espírito) e as soluções que o filme encontra para solucionar o mistério sobrenatural são risíveis e completamente jogadas. Em outras palavras, o filme não se assume em qual direção vai seguir, mesclando elementos já vistos um milhão de vezes em outros filmes (demônios puxando cobertas, as luzes da casa que nunca se acendem, etc.) resultando em um trabalho extremamente genérico e muito longe do potencial que o diretor Mike Flanagan demonstrou em outros filmes, especialmente os interessantes ‘Hush: A Morte Ouve’ e ‘O Espelho’.

Aqui em ‘Ouija 2’, a direção de Flanagan é tão atípica que até a movimentação de câmera e os ângulos escolhidos são completamente ‘engessados’, reforçando ainda mais essa sensação de ‘já vi isso antes’. Com exceção de um plano onde ele apresenta o tabuleiro Ouija e um ou outro momento, a câmera se resume a se aproximar e se afastar do rosto dos personagens ou de objetos para agregar certo impacto dramático, mas como não há um desenvolvimento da atmosfera psicológica no filme e consequentemente não há tensão, esse recurso é totalmente ineficaz. Há vários jumpscares (como era de se imaginar). Alguns até funcionam, mas a maioria é previsível e mal desenvolvida, como quando alguém chuta uma mesa, um fósforo acende e faz um barulho completamente exagerado, pessoas aparecendo subitamente e muitos, mas muitos gritos sobrenaturais. Intencionalmente ou não, há uma cena que ‘homenageia’ o clássico ‘O Exorcista’, quando o padre para em frente a casa com a maleta na mão, mas pelo desenrolar da história e a própria relevância que o padre tem para a trama, chega a ser risível tal comparação imagética.

Dito tudo isso, ‘Ouija: A Origem do Mal’ é mais um filme vazio e que pouco agrega à querida galeria dos filmes de terror, por ser extremamente genérico e confuso. O final é uma aberração, não há um mínimo clima de suspense construído, o desenvolvimento da história é abandonado ainda no segundo ato e sequer os jumpscares são impactantes. Se por um lado vai ser totalmente esquecível em pouco tempo, por outro, não dá para dizer que se esperava grande coisa da produção, portanto, as pessoas que forem assistir já sabem basicamente o tipo de filme que irão encontrar. Quem decepciona mais é o promissor diretor Mike Flanagan, que ainda confunde os críticos com alguns trabalhos interessantes e outros bem aquém do esperado. A própria direção de elenco deixa a desejar, pois conta com personagens mal desenvolvidos e atuações caricatas e bastante artificiais. Surpreendentemente conseguiu alguns elogios da crítica internacional – embora não tenha sido amplamente divulgado ainda – mas deve agradar apenas aos fãs de ‘Atividade Paranormal’, ‘Annabelle’ e filmes neste estilo.

UM MOMENTO APIMENTADO: A possessão da garotinha em frente ao espelho, visualmente impactante e como cena isolada funciona muito bem.




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