A Grande Viagem da Sua Vida
Diretor
Kogonada
Elenco
Margot Robbie, Colin Farrell, Jennifer Grant
Roteirista
Seth Reiss
Estúdio
Sony Pictures
Duração
109 minutos
Data de lançamento
18 de setembro de 2025
O quanto você vai gostar do novo filme de Kogonada depende da sua predisposição a apreciar clichês de romance. Apesar da forma mais lúdica e fantasiosa, a premissa do filme é simples e certamente já passou pela sua cabeça uma vez ou outra: e se você pudesse reviver momentos-chave da sua vida? Em “A Grande Viagem da Sua Vida”, portas misteriosas aparecem no caminho dos protagonistas e os levam para situações específicas do passado, como forma de ajudá-los a compreender e melhorar suas relações com o presente e o futuro. Mesmo com um uma quantidade considerável de metáforas e simbolismo, é um filme bem literal sobre viver uma vida aberta às possibilidades, em vez de se prender a ideias preconcebidas e traumas do passado – não é à toa que eles devem abrir portas para que isso aconteça.
Os protagonistas são artistas de peso, os indicados ao Oscar Margot Robbie e Colin Farrell. Margot interpreta Sarah, uma mulher que carrega uma bagagem de relacionamentos fracassados e perdeu a esperança de compartilhar algo bom com outra pessoa. Já Colin é David, um homem meio perdido em relação ao que quer da vida. Em comum, eles têm a solteirice convicta, ambos acreditam serem péssimos com relacionamentos. Eles não se conhecem, mas são convidados para o mesmo casamento fora da cidade e acabam se encontrando no caminho, uma obra do destino nada convencional: os dois acabam precisando alugar um carro de emergência e a única locadora disponível é uma mesa no fundo de um balcão com dois funcionários misteriosos e apenas dois carros de umas e décadas atrás. Os funcionários (Phoebe Waller-Bridge e Kevin Kline) falam em enigmas e riem de coisas estranhas, além de insistir o suficiente para que os dois optem pelo GPS no carro e é através desse GPS que eles começam a Grande Viagem de Suas Vidas (embora o título em inglês seja um pouco mais pretensioso e chame de uma grande, linda e ousada viagem).
A viagem de carro dos dois aumenta as apostas para avançar ainda mais com o lado lúdico e fantasioso do filme. O GPS tem vontade própria, conhece Sarah e David e os leva a uma viagem muito diferente da que eles esperavam. Já na primeira parada, que os faz encontrar uma porta no meio do nada, eles (e nós) entendem que eles voltarão ao passado, quando eles passam pela porta e saem na escola do Ensino Médio de David, no dia do show de talentos, em que David tem seu coração despedaçado pela primeira vez. Os pais dele também estão lá, com toda sua superproteção e amor e suporte incondicional em relação ao filho. As demais portas seguem a mesma lógica: cada uma os leva para um momento do passado que determinou suas chances e esperanças para o futuro. As lembranças variam em tom e intensidade, algumas mais engraçadas, outras mais sensíveis, sempre envolvendo as pessoas mais próximas de suas vidas, para Sarah, a mãe e para David, o pai. Acrescentando mais uma camada de emoção, a viagem é acompanhada de uma belíssima trilha sonora, mesmo que um tanto previsível.
“A Grande Viagem de Sua Vida” é, sobretudo, um romance. Embora David e Sarah não ganhem personalidades muito complexas ou desenvolvidas, temos informações suficientes para entender o que o amor significa para cada um deles, e o porquê deles terem se afastado dele ao longo da vida. Os dilemas dos protagonistas é comum para qualquer pessoa depois dos 30 anos, a fragilidade das relações, a falta de confiança para viver algo por inteiro. O filme utiliza uma linguagem simples e direta para abordar o assunto, com uma direção igualmente funcional, que se afasta um pouco da temática onírica, mas se você conseguir se conectar com os personagens, ainda será capaz de se emocionar. É difícil, hoje em dia, encontrar um romance com grandes nomes como esse, que tenha uma carga emocional, mas ainda seja leve e esperançoso – e é isso que mais me encantou em “A Grande Viagem de Sua Vida”. Os traumas do passado podem reger seu presente, mas há sempre a chance de não deixar que eles interfiram no seu futuro.
Por Júlia Rezende