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A Noite das Bruxas

Diretor

Kenneth Branagh

Gênero

Drama , Terror

Elenco

103 minutos

Roteirista

Michael Green

Estúdio

20th Century

Duração

Data de lançamento

14 de setembro de 2023

Na Veneza pós-Segunda Guerra Mundial, Poirot, agora aposentado e vivendo em seu próprio exílio, relutantemente vai a uma sessão espírita. Mas quando um dos convidados é assassinado, cabe ao ex-detetive descobrir mais uma vez o assassino.

Hercule Poirot está de volta para sua terceira adaptação cinematográfica pelas mãos de Kenneth Branagh, mas se você não assistiu às outras duas (Assassinato no Expresso Oriente e Morte no Nilo), ou não está familiarizado com o trabalho de Agatha Christie, está tudo bem: A Noite das Bruxas funciona sozinho, com pouquíssimas referências a obras anteriores. O filme se destaca dentre os demais também – e principalmente – pela sua temática. Enquanto as duas primeiras adaptações eram mistérios clássicos em conteúdo e forma, A Noite das Bruxas está muito mais próximo de um filme de terror do que de um filme de detetive, flertando constantemente com o sobrenatural e elementos típicos do horror, como os jumpscares.

Em A Noite das Bruxas, Poirot (Kenneth Branagh) está em Veneza, curtindo a paz de sua aposentadoria. Pessoas tentam insistentemente fazer com que Poirot investigue acontecimentos misteriosos de suas vidas, mas ele não só declina como chega a contratar Vitale Portfoglio (Riccardo Scamarcio), um guarda-costas que leva a sério seu trabalho de não deixar ninguém se aproximar de Poirot, mas isso só até a chegada de Ariadne Oliver (Tina Fey), uma personagem recorrente nos livros de Agatha Christie que agora chega às telas. Ariadne é uma escritora de mistérios que já se inspirou em casos dele, e no próprio Poirot, para seus livros. Ela consegue conversar com o detetive, apesar de Portfoglio, e traz o que ela acredita ser um mistério grande suficiente para fazer Poirot voltar à ativa. O caso trata da morte misteriosa de uma jovem, cerca de um ano atrás, um palazzo mal-assombrado e a Sra. Reynolds (Michelle Yeoh), uma mulher que se diz médium e afirma poder falar com os mortos. Ariadne quer que Poirot a acompanhe em uma sessão espírita que a Sra. Reynolds fará no palazzo no Dia das Bruxas, com o intuito de ajudar Rowena Drake (Kelly Reilly) a se comunicar com sua falecida filha, Alicia Drake (Rowan Robinson), para que Poirot use suas habilidades de observação e desvende o misticismo por trás de Sra. Reynolds, que a própria Ariadne não conseguiu desmascarar até o momento.

No palazzo, conhecemos também o Dr. Leslie Ferrier (Jamie Dornan), que enfrenta seus próprios demônios, e seu filho precoce Leopold (Jude Hill), bem como Olga Seminoff (Camille Cottin) uma mulher religiosa que zela pelo bem-estar da criança. A religião e o sobrenatural permeiam e ditam o andar da narrativa do começo ao fim e servem como combustível para o terror. A história é ambientada num clima sombrio e inóspito, que funciona bem com, pelo menos, a maior parte do filme. Não é tão claro se a intenção de Branagh era realmente fazer um filme de terror, afinal o filme não é explicitamente colocado nessa categoria e por vezes é possível perceber uma vontade de se encaixar em outras caixas senão essa, mas é difícil não julgá-lo como tal quando são utilizadas tantas artimanhas desse gênero. Visões, vozes, maldições, mortes (mais violentas do que nos filmes anteriores), Poirot procura por explicações racionais enquanto suas convicções são balançadas por acontecimentos que nem ele mesmo consegue entender.

Para contar essa história, é nítida a vontade de Kenneth Branagh de ousar e tentar inovar em sua direção. Enquanto os dois primeiros filmes apostavam num estilo mais clássico, em A Noite da Bruxa, Branagh se utiliza de mil e um movimentos de câmera, ângulos e coisas mais. Em algumas cenas isso é um ponto positivo e todo esse dinamismo ajuda no senso de imersão na imagem, mas com a repetição constante, em outras cenas acaba se tornando cansativo e desvia a atenção do assunto em questão, o que é especialmente prejudicial num whodunit que exige nossa atenção a todo momento para não perdermos o fio da meada. Também não ajuda que a parte mais interessante seja o terror e o mistério em si, que deveria ser o protagonista, não tem a força que deveria ter, chegando a ser entediante em alguns momentos e nem mesmo a grande revelação do final surpreende.

A própria história original, do livro de Agatha Christie, não está entre os melhores trabalhos da autora (talvez esteja entre os piores, inclusive), e as adaptações fizeram pouco para melhorá-la, fazendo deste o filme mais fraco dentre os três. Isso não significa que a história seja descartável, ainda é uma boa opção para os fãs desse universo e, principalmente, para os fãs de Poirot, que recebe um tratamento cuidadoso aqui, mas considerando o elenco que tinha em mãos, o filme poderia ter tido um diferente, e melhor, resultado.

 

Por Júlia Rezende

7

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