7.8/10

A Sociedade da Neve

Diretor

J.A. Bayona

Gênero

Aventura , Drama

Elenco

Enzo Vogrincic, Simon Hempe, Rafael Federman

Roteirista

J.A. Bayona, Nicolás Casariego e Jaime Marques

Estúdio

Netflix

Duração

144 minutos

Data de lançamento

14 de dezembro de 2023

Em 1972, um avião fretado para levar um time de rúgbi do Uruguai ao Chile sofre um acidente nos Andes. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis do planeta, os sobreviventes recorrem a medidas extremas para continuar vivos.

Se o público geral já ama histórias baseadas em eventos reais, ama ainda mais as que são histórias reais de superação – A Sociedade da Neve tem os dois, e você ainda pode adicionar alguns heróis da vida real à conta.

Em 1972 um avião fretado saiu de Montevidéu com destino ao Chile, um voo da Força Aérea Uruguaia com 45 pessoas a bordo, sendo um time de rugby amador com amigos e familiares. Durante o voo, enquanto sobrevoavam a Cordilheira dos Andes, o piloto fez a descida antes do que deveria. O avião colidiu com um pico da Cordilheira, perdeu as asas e foi praticamente cortado pela metade, matando ¼ da população. A reprodução desse primeiro acidente já é suficiente para mostrar que essa é uma grande produção, com efeitos de qualidade, mas que também não poupa seu espectador dos traumas e obstáculos que foram enfrentados pelo grupo.

A Sociedade da Neve não foi o primeiro filme sobre o que ficou conhecido como A Tragédia dos Andes. Em 76, apenas 4 anos após o acidente, foi lançada a produção mexicana “Os Sobreviventes dos Andes”, com uma abordagem mais próxima de um documentário do que de uma ficção. Já em 93, Hollywood fez sua versão dos fatos com o filme “Vivos”, estrelado por Ethan Hawke e dirigido por Frank Marshall, um filme bem recebido pela crítica e pelo público. Agora, quase 30 anos depois, uma nova produção chega aos cinemas, e posteriormente à Netflix: A Sociedade da Neve. Por mais que muitos remakes sejam desnecessários, esse se justifica por alguns motivos, o principal deles sendo sua nacionalidade.

“Vivos” é um filme norte-americano, em que todos os personagens falam inglês e são majoritariamente brancos, ainda que retratando jovens latinos. A cultura uruguaia também sofre com a adaptação em alguns momentos. Já “A Sociedade da Neve”, apesar de ser uma produção europeia, da Espanha, conta com um elenco quase todo uruguaio e argentino (cuja cultura se assemelha a do Uruguai). A história é contada em sua língua original, com as gírias e sotaques locais, dirigida por um diretor que também fala espanhol e, em alguns casos, foi gravada nas Cordilheiras. É claro que esses elementos, por si só, não constituem um bom filme, mas certamente ajudam a recriar e manter a atmosfera de autenticidade no set de filmagem, o que acaba sendo traduzido para a tela.

Essa sensação de autenticidade, inclusive, é o que diferencia e emociona. Um filme que começa com um acontecimento tão marcante e carregado de tensão, como é o caso do acidente, tem o desafio de manter esse nível de energia pelo restante de sua duração. Isso se torna ainda mais difícil nesse filme que tem outros diversos momentos de pico, em que precisa equilibrar os momentos de tensão com os (poucos) momentos de sobriedade sem que haja um abismo entre eles. Para a sorte do espectador, J.A. Bayona entendeu e soube repassar a essência dos personagens, a gravidade da situação e, principalmente, a sede por sobrevivência.

Para contar a história, foi escolhido o jovem Numa Turcatti (Enzo Vogrincic). Ele narra os acontecimentos por grande parte do filme, fala do passado e dos sentimentos não só dele, mas de toda a tripulação e cria um senso de proximidade e confiança com o público. Apesar de ser uma tragédia do começo ao fim, com muitas perdas no caminho, ainda é a história de um grupo de meninos, nos seus 20 e poucos anos, e toda essa jovialidade e carisma é o que torna possível que esse filme seja assistido apesar de toda a desgraça. É uma linha muito tênue entre dramaticidade e exploração da tragédia, mas J.A. Bayona se equilibra nela como poucos diretores conseguem fazer. O senso de desespero compartilhado entre os personagens nos mantém alerta o tempo todo, mas, assim como eles, há espaço para uma esperança realista e pouco romantizada. Nossa torcida pela sobrevivência dos garotos não está pautada apenas na pena e no desespero que a situação proporciona, mas nasce de uma conexão real entre nós e eles.

É um filme longo, com 2 horas e meia de duração, denso e com uma montanha russa de emoções, em que relaxar é a última coisa que você vai conseguir fazer. Mas é também uma história extremamente inspiradora, eletrizante e humana, sobre amizade, cooperação e solidariedade, além da vontade de viver.

 

Por Júlia Rezende

9

Missão cumprida

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