6.6/10

Back to Black

Diretor

Sam Taylor-Johson

Gênero

Drama

Elenco

Marisa Abela, Eddie Marsan, Jack O'Connell

Roteirista

Matt Greenhalgh

Estúdio

Universal Pictures

Duração

122 minutos

Data de lançamento

16 de maio de 2024

O filme narra a vida e a música de Amy Winehouse, através da jornada da adolescência até a idade adulta e a criação de um dos álbuns mais vendidos do nosso tempo.

Amy Winehouse conseguiu, em pouquíssimo tempo, uma cadeira cativa e vitalícia na história da música. Seja por sua voz inigualável, estilo fora de época ou até mesmo seu hit “Rehab”, Amy Winehouse teve uma imagem forte o suficiente para sobreviver à sua morte precoce em 2011, quando se juntou ao “Clube dos 27”, nome trágico dado aos artistas que faleceram no auge da fama, aos 27 anos, tal como Janis Joplin, Kurt Cobain, Jimi Hendrix… Vidas polêmicas, talento e fama são um prato cheio para alimentar a curiosidade do público e é natural que esse interesse leve a obras de ficção que prometem nos mostrar um lado mais íntimo dessas celebridades que por tanto tempo habitaram nosso imaginário. 

Apesar da morte relativamente recente, a vida de Amy já foi explorada “artisticamente” algumas vezes, a principal sendo o documentário “Amy”, que chegou a vencer o Oscar. Agora é chegada a hora da ficção para tentar nos colocar mais próximos de quem foi Amy Winehouse, a pessoa. É comum que para histórias ficcionalizadas, seja escolhido um recorte específico da história real e, em Back to Black, a diretora Sam Taylor-Johnson escolhe o relacionamento caótico entre Amy e Blake Fielder-Civil para conduzir a trama do longa. É uma decisão curiosa, escolher para definir o filme o mesmo relacionamento que a mídia levianamente usou para definir a própria Amy naquela época. O resultado disso é que muito do que vemos nas telas é apenas uma nova versão daquilo que já víamos ou pelo menos conhecíamos enquanto estava acontecendo. 

Nem mesmo o começo de “Back to Black” vai muito longe, vemos uma Amy (Marisa Abela) já entrando na vida adulta e flertando com o começo de uma carreira como cantora. Ela tem 18 anos, uma boa relação com a família, especialmente do lado paterno, consegue uns shows em bares locais e tem um namorado com o qual não se importa muito, mas escreve canções até mesmo sobre isso. Seu piercing no rosto, que a acompanhou durante toda a carreira, era seu sinal de rebeldia (e motivo pra ter sido expulsa da escola de teatro), junto com os cigarros e o álcool – que até então tinham pouca relevância, apesar da presença constante. Com o desenvolver de seu caminho na música, a personalidade forte de Amy começa a aparecer com maior frequência, mas pouco sabemos sobre ela – não só no início, mas também no final. 

Um acalento no filme, e a única relação realmente positiva, é como Amy se relacionava com Cynthia Winehouse (Lesley Maville), ou apenas Nan, sua avó paterna. Cynthia, que foi uma cantora de jazz quando jovem, era o maior ídolo de Amy, que via nela o seu ícone de moda. A avó apoiava Amy em todos os momentos, mas também estava pronta para demonstrar seu descontentamento com a neta quando necessário – provavelmente foi a única pessoa que realmente demonstrou preocupação genuína com Amy, algo que certamente viria a fazer falta na vida da artista. Quase não vemos a mãe de Amy, mas vemos seu pai (que chegou a escrever um livro de memórias após a morte de Amy), o taxista Mitch (Eddie Marsan) que é uma figura um tanto dúbia no filme (mas definitivamente não tanto quanto no documentário), já que estava sempre do lado da filha, mas por diversas vezes preferiu olhar para o outro lado em vez de intervir quando Amy estava claramente precisando de algum tipo de ajuda.

Amy e Blake (Jack O’Connell) se conhecem jogando sinuca e é um caso claro de atração à primeira vista, tanto que Amy nem se abala ao saber que ele tinha uma namorada. Por alguma razão (além do charme óbvio), Amy enxerga em Blake sua alma gêmea, o amor de sua vida, e logo eles começam um romance intenso, envolvendo tatuagens como nome um do outro e uma codependência tóxica. 

Acredito que ninguém que tenha acompanhado as notícias, ou as músicas de Amy nos anos 2000, duvide que seu relacionamento com Blake era qualquer coisa menos saudável, mas é um grande desperdício focar nessa relação para falar de Amy. O filme abre com uma frase da própria Amy sobre cantar, mas aqui o foco nunca é a música, nada é movido pela sua vontade de fazer arte, de melhorar sua música, de se superar de alguma forma ou só de ser uma artista. Os momentos musicais acontecem, e é durante esses momentos que o filme alcança seu ápice, afinal as músicas de Amy falam por si só e Marisa Abela faz um trabalho extraordinário ao dar sua voz para a personagem. Mas esses momentos são desconexos de todo o resto, aparecem para nos lembrar que Amy era uma das vozes mais importantes e sua relação e não “qualquer” jovem britânica com problemas de relacionamento. 

Cinebiografias estão numa nova onda de tendência, mas quase todas elas falham no mais importante: mostrar, de fato, quem era a pessoa por trás do artista; e nisso, Back to Black também não tem sucesso. Vimos que Amy é bulímica, mas apenas vemos, nunca entendemos. Ela tem seus traumas, mas não sabemos quais. Tudo que humaniza Amy é mostrado apenas como plano de fundo e nunca chegamos perto de tentar entender as suas ações, apenas vemos (novamente) suas consequências. A sorte do filme (e de todos nós) é que Amy era uma figura poderosa sem precisar se esforçar e Marisa Abela chega perto o suficiente para passar parte disso para a tela, criando um filme capaz de emocionar apesar de suas fragilidades. Se nada mais funcionar, “Back to Black” ao menos nos traz de volta às músicas de Amy, incluindo de seu primeiro – e menos conhecido – álbum.

 

Por Júlia Rezende

7

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