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Barbie

Diretor

Greta Gerwig

Gênero

Comédia , Drama

Elenco

Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera

Roteirista

Greta Gerwig e Noah Baumbach

Estúdio

Warner Bros. Pictures

Duração

114 minutos

Data de lançamento

20 de julho de 2023

Viver na Barbie Land é ser um ser perfeito em um lugar perfeito. A menos que você tenha uma crise existencial total. Ou você é um Ken.

Poucas vezes vemos um filme com um marketing tão abundante quanto de Barbie, sobretudo se considerarmos que não é um filme de franquia. É claro que, apesar de não ser franquia, tem a boneca mais famosa de todos os tempos por trás, mas ainda assim tem um mérito impressionante. Colaborações com marcas de roupa, fast food, doces, exposições e etc., podem ter sido a base, mas o que fez Barbie deslanchar e atrair atenção ao ponto de vermos rosa em todos os lugares foi a expectativa do público (você pode ler mais sobre isso aqui). O famoso hype elevou Barbie a níveis extraordinários, com ingressos esgotados antes mesmo da estreia e o registro da maior pré-venda de todos os tempos da Warner Bros. Pictures no Brasil, ultrapassando Animais Fantásticos e O Batman.

Pois bem, finalmente chegamos à estreia e Barbie, escrito por Greta Gerwig e Noah Baumbach (seu marido) e dirigido por Greta, tem a grande responsabilidade de não decepcionar agora que sai do campo das ideias para se concretizar para seu público. O pouco que foi divulgado da trama pelos trailers certamente não é o suficiente para se formar uma ideia do que o filme realmente é – e isso é ótimo. Inclusive, aconselho a ir ao cinema sabendo o mínimo possível e escreverei aqui sem revelar pontos inéditos da história também.

Além do desafio das altas expectativas, Greta Gerwig tinha também a responsabilidade de transformar a boneca Barbie, que já existe há 6 décadas e é símbolo de diversas controvérsias, numa personagem relevante e cativante para o público das novas gerações, que já a rejeitam por diversos motivos. O ponto forte da boneca vem do fato de que ela foi a primeira boneca adulta a ser criada (até então, todas as bonecas eram só bebês) e, mais importante, ela expandiu horizontes, criando versões da Barbie em todo o tipo de carreiras, médica, astronauta, professora, presidente, você pensa numa profissão e, certamente, há uma Barbie dela, uma revolução não apenas por serem profissões que, no nosso mundo real, não são (e principalmente não eram) majoritariamente exercidas por mulheres, mas também por darem às meninas a chance de se imaginarem como algo além de mães, se quisessem. Por outro lado, a Barbie também perpetua padrões de beleza absolutamente inalcançáveis e nada saudáveis. Barbie, o filme, está 100% consciente de todos esses pontos e sabe aproveitar todos eles a seu favor – até mesmo os negativos.

A primeira coisa que chama atenção no filme é a comédia, afinal de contas ainda estamos falando de um filme sobre bonecos vivendo na Barbielândia. Mas Greta se comprometeu a criar um universo para esse filme que vai muito além do mundo da Barbie e a segue até mesmo no mundo real, mas em proporções acertadas. A Barbielândia é um show à parte, criada milimetricamente como as casas de adereços da boneca que conhecemos, só que em tamanho real (e a cidade é mesmo cenário, não tela verde, o que faz toda a diferença para o tom do filme), as cores plásticas em tons pastéis criam uma atmosfera lúdica e irreal que acompanha as demais Barbies e Kens (e Allan) e é impressionante ver como cada um desses personagens se destacam apesar de, essencialmente, serem “iguais”. Vale o destaque para Issa Rae como a Barbie presidente, que tem o timing perfeito para comédia, mas é um elenco talentosíssimo como um todo, comprometidos com o clima propositalmente “bobo” que uma terra de bonecos “perfeitos” teria.

Como os trailers mostraram, o pontapé inicial da trama é a Barbie criando consciência e entrando numa crise existencial, que começa como algo leve, mas, na segunda metade do filme assume um papel muito mais profundo e universal, não só para Barbie, mas para o Ken também (em proporções menores, afinal de contas ainda é um filme da Barbie e não da Barbie e do Ken) e Ryan Gosling brilha exatamente nesse lugar que lhe é disponibilizado. Dizer que Margot Robbie é a escolha perfeita para a protagonista é praticamente um eufemismo, com poucos segundos de filme ela já convence que ela e Barbie são uma só, da melhor forma possível.

Barbie é essencialmente divertido, engraçado e leve, recheado de easter eggs e se utiliza desses artifícios para tratar de assuntos como o machismo e o corporativismo (apesar de precisar se limitar por conta dele em alguns momentos, afinal ainda é uma produção e produto da Mattel). Barbie não apaga os “defeitos” da boneca, mas consegue os ressignificar com brilhantismo. É uma homenagem não só à boneca, mas às meninas e às mulheres que tiveram suas vidas marcadas pela boneca (e pras que não gostava dela também) e que agora, talvez pela primeira vez, têm uma representação da Barbie com quem podem se identificar sem precisar mudar. Contudo, acima de qualquer coisa, Barbie é uma celebração de tudo aquilo que nos torna humanas, com defeitos e tudo.

 

Por Júlia Rezende

10

Missão cumprida

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