
Conclave
Diretor
Edward Berger
Gênero
Drama
Elenco
Ralph Fiennes, Stanley Tucci, Isabella Rossellini
Roteirista
Peter Straughan
Estúdio
Diamond Films
Duração
120 minutos
Data de lançamento
23 de janeiro de 2025
Conclave talvez seja uma das maiores provas de que qualquer assunto pode render um bom filme, desde que a história seja muito bem contada – e Conclave é. O filme, que tem se destacado em todas as principais premiações do ano até agora, incluindo 8 indicações ao Oscar, já começa com a morte de um Papa e uma pequena prévia de como essa morte pode balançar os postos mais altos da igreja católica. À primeira vista, Conclave pode parecer um filme sobre a igreja ou apenas uma crítica à organização dessa religião, mas não demoramos a perceber que, acima de qualquer coisa, é um filme sobre disputa de poder, o que o torna muito mais acessível e, inevitavelmente, interessante. Entre paredes altas e intimidadoras, que parecem se estender por toda a Cidade do Vaticano, vão se formando os frágeis laços e planos entre os candidatos a novo Papa e o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é o grande responsável por organizar e supervisionar todo o processo de escolha até que a igreja possa declarar, enfim, que há, novamente, um Papa.
Se vendo numa situação irremediável, Lawrence não tem escolha senão prosseguir com as formalidades, embora seja o único que aparenta vivenciar o luto por conta da morte do Papa. Com muita sutileza, Ralph Fiennes nos apresenta Lawrence como um homem de sensibilidade e força de caráter que não se traduzem em seu exterior. Constantemente taciturno e preocupado, Lawrence logo deixa claro que, diferente da grande maioria de seus colegas, não tem qualquer desejo pela posição de liderança – tudo que ele quer é um processo justo e a melhor escolha possível para a Igreja Católica, mas é um processo mais difícil do que ele poderia esperar. Diferentemente do que a própria religião desses homens sugere, o bem comum é colocado por eles em segundo plano e seus interesses pessoais falam mais alto. Cada um tem uma agenda bem clara, alguns progressistas, outros pouco mais conservadores, outros que sentem falta até mesmo da missa rezada em latim, embora a maioria defenda que essa já é uma “língua morta”. Enquanto Lawrence é bajulado por todos os lados, vai se desenrolando uma trama de intrigas, traições e segredos. Se os cardeais fossem uma família, teríamos um “Succession” na Igreja.
O Vaticano é um personagem à parte, seus corredores intermináveis, paredes e cômodos impessoais, refletem a engenhosa trilha política de uma verdadeira eleição. A fotografia que brinca com a iluminação ajuda a criar o clima ideal para a história, ao mesmo tempo em que cria visuais dignos das obras que costumam retratar o Vaticano. O processo de escolha do Papa vem com suas próprias particularidades que só aumentam o drama e o mistério de cada passo dessa escolha. É muito fácil esquecer que se trata de uma situação que vem da religião, o que torna o filme ainda mais acessível. A direção de Edward Berger garante movimento para uma história de jogos mentais. As frentes defendidas por cada candidato nos convidam a questionar a ordem das coisas, o papel da Igreja – e sobretudo o papel dos homens – na vida comum.
Com uma atuação marcante de Ralph Fiennes, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator, o elenco também conta com nomes como o de Isabella Rossellini (também indicada ao Oscar, na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante), que através da personagem da Irmã Agnes, representa o papel secundário da mulher no Catolicismo. A ideia de um real progresso na Igreja não é escancarada, na verdade, é sempre recebida com resistência, mas sua introdução é crucial para uma discussão ainda maior, que culmina num final surpreendente e ainda mais desafiador, potencializado por uma trilha sonora que ajuda a tirar das sombras uma reviravolta potente.
Por Júlia Rezende