6,4/10

Dançando no Silêncio

Diretor

Mounia Meddour

Gênero

Drama

Elenco

Lyna Khoudri, Rachida Brakni, Nadia Kaci

Roteirista

Mounia Meddour

Estúdio

Pandora Filmes

Duração

104 minutos

Data de lançamento

06 de maio de 2023

Uma jovem apaixonada por balé passa por um trauma, conhece outras mulheres que passaram por situações semelhantes e encontram uma forma criativa de perseguir sua paixão.

A dança é uma forma de expressar pensamentos e sentimentos. É uma arte democrática que alcança qualquer pessoa, pois seja de forma profissional ou amadora, todo mundo já dançou, mesmo que só mexendo a cabeça. E o filme argelino “Dançando no Silêncio” (Houria, no título original), tem o intuito de usar o ballet como o ponto principal da narrativa.

O longa conta a história da jovem Houria, uma bailarina que sonha em se tornar uma profissional renomada no mundo da dança. Tudo muda quando ela sofre uma agressão, que a deixa sem andar e falar. Durante sua recuperação, Houria conhece outras mulheres que passaram por situações semelhantes e encontra uma forma criativa de perseguir sua paixão.

Em “Dançando no Silêncio”, a diretora franco-argelina, Mounia Meddour, traz de volta grande parte do elenco de “Papicha” (2019), seu projeto anterior, além de ambos os filmes debaterem sobre a guerra civil na Argélia no anos 1990. A diferença é que em “Papicha”, a Meddour coloca um olhar muito mais particular, pois foi inspirado na juventude da própria diretora durante o conflito. Enquanto no novo filme, ela retrata os resquícios da guerra no tempo atual.

A protagonista Houria, interpretada atriz Lyna Khoudri, entrega um interpretação avassaladora, que rouba a cena com sua ótima performance dramática. Outro destaque é Rachida Brakni, que interpreta Sabrina, a mãe de Houria. A atriz faz uma personagem de várias camadas, ela mostra um lado exigente e duro como professora de ballet da filha, mas sua postura muda fora dos palcos, se mostrando um mão amorosa e uma mulher forte com um passado doloroso.

Meddour que também é a roteirista do filme, acerta no desenrolar dos fatos e na criação de ótimas subtramas. Ela sabe desenvolver seus personagens de forma sútil e poética, contando suas histórias, desejos e angustias. É muito interessante como o olhar feminino é o que domina a história, onde a maioria do elenco são mulheres, e os poucos homens que aparecem são quase todos mal-intencionados ou violentos, sendo que o vilão da história é o ex-terrorista Ali (Marwan Fares), que assalta e agride Houria, ocasionando sequelas físicas e mentais na jovem.

Por conta disso, a narrativa foca na sororiedade entre as mulheres e a importância de uma rede de apoio. Durante todo o filme, diferentes ambientes mostram essa irmandade. Na escola de ballet, as bailarinas brincam e se ajudam; no trabalho, Houria e sua melhor amiga Sonia (Hilda Amira), sonham com seus futuros e mostram uma das amizades mais lindas do cinema; em casa, a protagonista e sua mãe Sabrina se apoiam e se sustentam sem a presença de uma figura masculina; e no centro de reabilitação, ela conhece mulheres com traumas parecidos, e resolve ensiná-las a dançar como forma de terapia.

Com uma história triste e potente, “Dançando no Silêncio” é um grito sobre resiliência, que mostra a história de um país marcado pelo  machismo, violência e corrupção. A diretora faz um trabalho brilhante ao equilibrar os fatos históricos com a vida de cada pessoa retratada, construindo uma temática necessária para o cinema contemporâneo, que tanto precisa visibilizar essas vozes fora do circuito hollywoodiano ou europeu. Um filme que tem um missão e que consegue cumpri-la de maneira impecável.

“Dançando no Silêncio” tem pré-estreia nesta segunda-feira de feriado (01), em São Paulo, no Petra Belas Artes. Mas chega oficialmente aos cinemas nesta quinta-feira (04).

9

Missão cumprida

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