9.1/10

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

Diretor

Joaquim dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson

Gênero

Ação , Animação , Drama

Elenco

Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Oscar Isaac

Roteirista

Phil Lord, Christopher Miller e Dave Callaham

Estúdio

Sony Pictures

Duração

140 minutos

Data de lançamento

01 de junho de 2023

Depois de se reunir com Gwen Stacy, Homem-Aranha é pego através do Multiverso, onde ele encontra uma equipe de Pessoas-Aranha encarregada de proteger sua própria existência.

Quando Homem-Aranha no Aranhaverso foi lançado, em 2018, surpreendeu não só pela força da história e a forma original de apresentar um personagem ao mesmo tempo novo e conhecido, mas, o que o filme teve de mais disruptivo foi encontrar originalidade não só no conteúdo, mas na forma. Por mais que existam centenas de maneiras de se fazer uma animação, de modo geral acabamos vendo os filmes de Hollywood seguindo um certo padrão, com uma ou outra novidade aqui e ali, muitas vezes apoiada em novas tecnologias, mas o Aranhaverso a que fomos apresentados trouxe um conjunto de técnicas, ainda com base no 2D, misturando os traços característicos dos quadrinhos e os traduzindo com perfeição para o audiovisual.

Sempre que é anunciada uma sequência para um filme que foi excepcional, é criada uma expectativa – e às vezes até um certo receio – a respeito de sua qualidade, e o mais comum é que essa expectativa realmente não seja alcançada, muito menos superada. Mas Homem-Aranha no Aranhaverso não é como os filmes comuns, e sua sequência muito menos. Homem-Aranha: Através do Aranhaverso pega tudo que deu certo no anterior, expande e, para  a alegria do espectador, o supera. A trama está mais desenvolta, complicada (no melhor sentido da palavra) e humana. Miles Morales não é mais uma criança, ele é praticamente um adulto agora e apesar de mais maduro, as inseguranças que vêm com todas as mudanças, sejam elas internas ou do mundo como o conhecemos, o acompanham durante toda sua trajetória até se transformarem em seu ponto forte.

A cultura do hip-hop, presente na estética, na música, foi um elemento-chave para a unidade desenvolvida pelo filme, tanto no primeiro quanto no segundo. E, enquanto ele continua sendo a cola que conecta e concentra o universo particular de Miles, em Através do Universo ele abre espaço para outras culturas e outras possibilidades. Inclusive, toda a trama gira em torno da multidão de possibilidades que são geradas a cada escolha (como filmes sobre multiverso geralmente fazem), mas o Aranhaverso continua sabendo mostrar um olhar único, ao mesmo tempo que extremamente relacionável, até sobre assuntos que já são comuns. Dando continuidade ao multiverso que Miles conheceu no primeiro filme, ele agora sabe o que é ser um super-herói e as super-responsabilidades que vêm com o uniforme e ele também sabe que não está sozinho nessa – mais ou menos. Peter e Gwen ficaram em suas respectivas dimensões e Miles sente falta de ter alguém ao seu lado, mas sua saudade logo se mistura com decepção quando ele descobre que os dois se juntaram a um “novo” Homem-Aranha, Miguel O’Hara ou também conhecido como a versão 2099 do aranha, que, como todos os aranhas até agora, passou por perdas e dores em sua vida, mas de todos, ele é o que mais sofre com isso, sem nunca ter conseguido superar. Miguel serve como uma espécie de “guardião” dos multiversos (se você pensou num certo Doutor da Marvel, eles também pensaram e tem até uma brincadeira com isso), e não está nem um pouco satisfeito com a bagunça que Miles e seus amigos fizeram nos eventos do filme anterior e que, ao contrário do que eles imaginavam, não estava resolvido.

Entre conceitos de amizade, família, confiança, luto, martirização e muito mais, questões que aparecem de sutileza, elegância e um bom toque de humor, nas infinitas versões dos aranhas, o filme também apresenta um vilão traiçoeiro e inteligente na forma do Mancha, mas aqui está outra grande sacada: o real grande vilão é muito mais uma ideia, um meio, do que a pessoa em si. Mancha está lá, mas não é ele a maior fonte do medo de Miles, nem de ninguém. A sensibilidade alcançada pela produção é uma coisa rara de se ver e conversa tão bem com o visual (a estética do mundo de Gwen e como as cores se comunicam com as emoções é um show à parte) e a trilha do filme, que nos leva a compreender e admirar a grandiosidade da história num geral ao mesmo tempo em que a assistimos.

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso não é só consciente de sua sensibilidade e da complexidade de seus personagens, mas de todo o universo da vida real que rodeia o personagem do Homem-Aranha e todas as versão dele, até mesmo na vida real, são levadas em conta, de Marvel e Disney a meme da Internet e participações especiais. O humor vem com leveza e arranca um riso fácil e divertido. Que a campanha do Oscar virá não é nenhuma surpresa, mas seria ainda mais interessante – e justo – se além de Melhor Animação, concorresse também a Melhor Filme. Ele é bom assim.

Se fosse pra achar um defeito, seria o final (sem spoiler) que apela, sem necessidade, para uma continuação. Só porque não era necessário, depois desses dois filmes, eles já ganharam minha confiança para assistir mais 10.

 

Por Júlia Rezende

10

Missão cumprida

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