6.7/10

Idílico

Diretor

Aaron Rookus

Gênero

Comédia , Drama

Elenco

Hadewych Minis, Eelco Smits, Nabil Mallat

Roteirista

Aaron Rookus

Estúdio

Duração

99 minutos

Data de lançamento

Victor, aos 42 anos, finalmente assume publicamente sua sexualidade, mas percebe que talvez já esteja velho demais para o mercado de namoro gay. Sua irmã, Annika, uma diva da ópera, recebe o diagnóstico de uma doença terminal e passa a reimaginar sua vida e os diferentes caminhos que poderia ter seguido. A avó deles, Joke, por outro lado, está cansada de viver e busca desesperadamente dar um fim nisso – ainda que ninguém esteja disposto a ajudá-la nesse objetivo. Para Timo, de 10 anos, é exatamente o oposto: ele corre contra o tempo para realizar sua lista de desejos, achando que tem apenas mais uma semana de vida. Já seus pais, Hannah e Musa, vivem um casamento sem amor, marcado por segredos, enquanto tentam reencontrar a si mesmos e reconstruir a conexão que um dia tiveram. Apesar de serem pessoas diferentes, todos buscam a mesma coisa: o objetivo quase inalcançável da plena realização da vida, enquanto enfrentam as reviravoltas imprevisíveis que ela lhes impõe.

Competição Novos Diretores da 49ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo

Idílico, o segundo filme do diretor Aaron Rokus e parte da Competição Novos Diretores da 49° Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é surpreendentemente agradável para um filme com personagens tão deprimidos e tramas e subtramas tão desesperançosas. Tendo como foco uma família disfuncional, Idílico explora diferentes reações em relação à vida e à morte, com um certo niilismo que, por ser tratado com leveza e bom-humor mesmo nos momentos mais difíceis, passa a apreciar a falta de lógica que nos rodeia. Para isso, o diretor (que também assina o roteiro) cria um mosaico que começa com dois irmãos, dividindo o protagonismo. Victor (Eelco Smits) está tendo que se reinventar na casa dos 40, ele acabou de se divorciar de uma mulher e se assumir gay, e quer aprender como se envolver com outros homens, geralmente com a ajuda de aplicativos de relacionamento. Já Annika (Hadewych Minis) é uma cantora de ópera que recebe o diagnóstico de uma doença terminal e passa a repensar as escolhas que definiram sua vida. Annika tem um filho adolescente do qual não é muito próxima e um ex-marido que cuja nova namorada lhe causa incômodo. 

Em Idílico, ninguém parece confortável com a posição que ocupa no mundo e a realidade de suas vidas, incluindo o pai deles, Otto (Sam Louwyck) que está internado por problemas mentais e a avó e matriarca da família, Joke (Beppie Melissen), uma senhora que vive numa mansão, cuidada pelo gentil galã Mohammed (Sia Cyrroes), mas ela é a mais descontente entre eles, constantemente tentando encontrar formas de acabar com a própria vida, mas sempre impedida no último minuto. “Quando acontecer, será naturalmente.”, insiste Mohammed. A morte tem a força de um protagonista na narrativa, permeando todos os assuntos e interações entre os personagens. Qualquer deslize do diretor Rookus poderia transformar essa numa história extremamente trágica, mas a escolha por alguns pontos cômicos faz com que seja um filme surpreendentemente doce. Parte disso vem das novas descobertas de Victor e da relação de dois meninos que são melhores amigos e um deles acredita numa vidente mirim que diz que ele vai morrer em exatamente uma semana, levando-o a fazer uma lista de últimos desejos. 

O menino em questão, Timo (Isacco Limper) apesar de ser um alívio cômico, faz parte de uma das subtramas mais “sombrias”, que surge da insegurança de Annika depois de receber o diagnóstico de sua doença. Ela passa a questionar sua vida e somos levados a uma nova dimensão em que ela é Hannah, uma mulher que não abriu mão de ter uma família para ser uma artista de sucesso. Hannah tem um emprego de horário comercial, um filho fofo (o Timo) e um marido que trabalha como professor; no papel, é uma família tradicional e perfeitamente normal, mas como a narrativa está sempre nos lembrando, não há uma fórmula para eliminar todos os problemas e alcançar a plenitude e a realidade é que Hannah, que seguiu o caminho oposto, ainda é infeliz, infiel, seu casamento está em ruínas e seu marido, Musa (Nabil Mallat), é deprimido. A alternância entre as linhas do tempo entre Annika e Hannah por vezes não é tão clara, o que pode causar uma certa confusão em relação ao filme, que perde um pouco de sua força lá para a metade. 

Diante da finitude de suas vidas (ou das vidas daqueles próximos), “Idílico” navega entre drama e comédia a todo momento e a direção, com ajuda da fotografia e da trilha sonora, faz as transições acontecerem de forma orgânica, assim como as atuações sólidas. Embora não proponha uma solução, levanta reflexões interessantes sobre a vida e como escolhemos vivê-la.

 

Por Júlia Rezende

8

Missão cumprida

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