
June e John
Diretor
Luc Besson
Elenco
Luke Stanton Eddy, Matilda Price, Ryan Shoos
Roteirista
Luc Besson
Estúdio
Diamond Films
Duração
92 minutos
Data de lançamento
12 de junho de 2025
June e John é um filme que brinca com os extremos, os excessos, desde o começo, mas essa abordagem (que está presente no roteiro e na fotografia) funciona mais em alguns momentos do que em outros. O filme começa com John (Luke Stanton Eddy) em mais um dia caótico de sua vida. Tudo em John é extremamente ordinário, ele mora sozinho e liga diariamente para a mãe, dirige um carro que já viu dias melhores, trabalha com contabilidade num banco e é desvalorizado a cada passo em seu caminho. John, que poderia muito bem ser um John Doe, pseudônimo usado nos Estados Unidos e Reino Unido para pessoas cuja identidade é desconhecida, mas se a vida dele fosse apenas marasmo, estaria bem melhor. John sofre de ansiedade e depressão, toma diversos remédios para se estabilizar, não tem nenhum amigo próximo, seu colega de trabalho é um grande babaca e, aparentemente, todo o universo conspira contra ele. Um carro estaciona em sua vaga no estacionamento da empresa, o responsável pelo estacionamento nem ao menos olha em sua cara, o que faz com que seu carro seja guinchado, o dono da empresa é meticuloso e disposto a fazer da vida de John um inferno, ele perde a carteira, é parado pela polícia… Tudo que pode dar errado no dia de uma pessoa acontece com John. Esse, inclusive, é um dos primeiros exageros em “June & John”; é claro que pessoas azaradas existem, mas a vida dele parece ser uma sucessão interminável de pessoas ruins, situações adversas e muita desgraça, tanto que começa a ficar cansativo ver o quanto esse rapaz sofre sem nunca fazer por onde, principalmente porque tem características valorizadas pela sociedade, ele é bonito, tem o corpo dentro dos padrões, parece ser bom no seu trabalho, mas nada disso parece adiantar. Isso, é claro, até ele conhecer June (Maldita Price) pela janela do metrô e aí sua sorte começa a mudar.
Luc Besson pretende fazer desse um daqueles romances avassaladores, em que olhares se encontram pela primeira vez e, sem qualquer explicação, o amor aparece. Para fazer isso acontecer, ele recorre a um tropo muito utilizado algumas décadas atrás que ficou conhecido no cinema como Manic Pixie Dream Girl. Esse termo é utilizado em referência às personagens femininas que são excêntricas, espalhafatosas, por vezes inconsequentes e sempre misteriosas, mas ainda que suas personalidades chamativas tivessem o potencial de render grandes histórias, elas são usadas apenas como um meio para que o protagonista masculino (que geralmente é um cara comum, sem graça) possa ser desenvolvido, enquanto o desenvolvimento da personagem feminina é jogada para escanteio. Por mais que esse termo muitas vezes seja usado de forma inapropriada, aqui, ele se encaixa perfeitamente. June entra na vida de John como um furacão, uma força imparável da natureza. Eles, milagrosamente, se encontram nas redes sociais depois de trocarem apenas o primeiro nome durante o breve (e distante) encontro no metrô. John acabou de criar uma conta, mas June já tem um Instagram misterioso, sem nenhuma dica sobre sua vida, com pouquíssimas postagens, mas quase 1 milhão de seguidores. E quando eles se encontram, é com June invadindo o trabalho de John com uma arma na mão, ameaçando a todos, inclusive o chefe de John, e ainda rouba o cofre do banco, terminando seu grande ato com um pedido para que John a acompanhasse para viver a vida livre. E, contrariando todas as lógicas (e a lei), John vai.
A ideia de um casal que se joga cegamente (e inconsequentemente) na vida em nome do amor ou da liberdade pode muito bem ser uma belíssima história, Bonnie & Clyde e Thelma e Louise não se tornaram clássicos à toa, mas o modo como Besson conduz a história, principalmente do começo ao meio, é feito de forma pouco imersiva e convincente, exigindo muito do espectador para que as atitudes dos protagonistas faça algum sentido. Ao mesmo tempo em que o filme pende para os exageros, fica numa linha tênue entre realidade e fantasia, mas não decide se quer ser uma coisa ou outra. Se o lado lúdico, fantasioso, se fizesse mais presente, a dúvida em relação à realidade e delírio poderia ser um fator positivo para nos relacionar mais com a história, mas quando isso parece estar mais perto de acontecer, um fato bem real e disruptivo (embora nem um pouco surpreendente) muda o rumo da história e apela, mais uma vez, para uma espécie de sacrifício da personagem feminina a favor do desenvolvimento do protagonista masculino, enquanto nos dá certeza de que toda a trajetória dos dois foi bem real e, consequentemente, ainda mais inverossímil.
A fotografia do filme também segue na mesma linha desses extremos, utilizando uma estética mais comum às filmagens com smartphones, em que close-ups são comuns. É uma abordagem nova e que chega a funcionar em alguns momentos, mas não acrescenta algo, de fato, à narrativa. Quando explora os ambientes abertos e inerentes à procura da liberdade de June, o filme é mais bonito e se torna mais atraente. As atuações são consistentes, principalmente Luke Stanton Eddy, que preenche todos os requisitos de um jovem galã e sua química com Matilda Price parece aumentar ao longo da jornada de romance dos personagens, também um ponto positivo. Inclusive, apesar de ser um tanto tarde para isso, é no terceiro ato que conseguimos nos conectar realmente ao casal, ao ponto de realmente nos importarmos com sua jornada meteórica de amor e quase esquecer da falta de emoção durante tudo que veio antes. O problema é esse “quase”, que entre um roteiro exigente e personagens mirabolantes, fica numa zona cinzenta que acaba não convencendo como romance, como aventura, fantasia ou drama.
Por Júlia Rezende