6.8/10

Levante

Diretor

Lillah Halla

Gênero

Drama

Elenco

Ayomi Domenica, Rômulo Braga, Grace Passô

Roteirista

Lillah Halla e María Elena Morán

Estúdio

Vitrine Filmes

Duração

99 minutos

Data de lançamento

22 de fevereiro de 2024

A futura liberdade e autonomia de Sofía, uma jovem jogadora de vôlei, são ameaçadas por um conservador e violento efeito manada... Às vésperas do campeonato de vôlei decisivo para seu futuro como atleta, SOFÍA (17), descobre uma gravidez indesejada. Na tentativa de interrompê-la clandestinamente, ela acaba se convertendo em alvo de um grupo fundamentalista decidido a detê-la a qualquer preço, mas nem Sofía nem aqueles que a amam estão dispostos a se render ante o fervor cego da manada.

Alguns anos atrás fui impactada por um filme chamado “O Acontecimento”, sobre uma jovem promissora na França que passava por uma série de acontecimentos desumanos enquanto tentava conseguir realizar um aborto, ilegal na época. Esse filme se passa nos anos 60. Agora, em 2024, o aborto é legalizado na França, mas o Brasil ainda é um dos países com as leis mais rígidas sobre o assunto e conseguir um aborto seguro continua sendo um grande problema, em que a mulher é, mais uma vez, a principal vítima. Em “Levante”, filme de estreia da diretora e roteirista brasileira Lillah Halla que já acumula mais de 20 prêmios em sua carreira de festivais, podemos acompanhar a saga de Sofia (Ayomi Domenica), uma promissora jogadora de vôlei que se descobre grávida poucos antes de receber uma proposta que pode mudar sua carreira. 

No centro de “Levante” (e no título também) temos um time de vôlei inclusive, com atletas femininas e não-bináries. O time é bom, mas a presença de Sofia no time o torna ainda melhor, eles estão próximos de vencer o campeonato regional, Sofia recebe a visita de uma olheira que indica que uma bolsa de estudos no Chile é uma possibilidade muito real e tudo parece ir bem, até que Sofia descobre a gravidez. Com medo das possíveis consequências, não poder ajudar seu time a vencer o campeonato, não poder ir para o Chile, decepcionar seu pai e ser julgada por sua comunidade, Sofia primeiro tenta encontrar uma solução sozinha. Ela encontra na Internet uma clínica que diz poder ajudar – um erro inocente e jovial, já que o aborto no Brasil ainda é criminalizado e esse tipo de clínica não estaria disponível com fácil acesso. 

Assim como tem acontecido nos EUA depois da revogação da jurisprudência que garantia acesso ao aborto, o que Sofia encontra é uma clínica falsa, montada com o intuito de fazer com que as mulheres mudem de ideia e desistam de um aborto – quebrando, eles mesmos, diversas leis para alcançar esse objetivo. De um dia para o outro, a vida de Sofia muda drasticamente, ela passa a ser perseguida pela mulher responsável pela clínica, tem seu sonho em risco e é obrigada a compartilhar a notícia da gravidez com o pai e com seu time. É a reação deles que constrói a alma do filme e o impede de ir para um caminho mais trágico. A primeira reação de seu pai, que até então ocupava seu tempo colocando vídeos de apicultores e colmeias na Internet, foi negativa, mas quando uma amiga chama sua atenção, ele logo prioriza sua filha e passa a ajudá-la com toda a questão. Já o time demonstra seu apoio imediato e indondicional, é uma representação de sororidade e empatia que enriquece todos os aspectos da narrativa. As atuações têm grande peso nesse aspecto, mesmo lidando com atores inexperientes, é uma equipe que funciona extremamente bem como um grupo.

A ideia da luta entre o conservadorismo e a liberdade e o progresso, que assola o nosso país (e, infelizmente, o mundo) está presente em cada passo da jornada de Sofia e essa discussão é apresentada de uma forma didática, mas envolvente e realista até onde a ficção e a ambição de Lillah permitem. O tema, por si só, é pesado, mas por grande parte do filme é bem equilibrado com a leveza e o alto astral do time de vôlei, até que se rende para um final que chega a ser um pouco exagerado. Outras cenas parecem um pouco deslocadas, como o romance de Sofia com outra atleta, mas “Levante” ainda é um ótimo representante do cinema nacional atual, com uma força palpável, uma mensagem relevante e necessária que é universal, mas envelopada em brasilidade.

 

Por Júlia Rezende

8

Missão cumprida

pt_BR