6.9/10

Napoleão

Diretor

Ridley Scott

Gênero

Drama

Elenco

Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim

Roteirista

David Scarpa

Estúdio

Sony Pictures

Duração

158 minutos

Data de lançamento

23 de novembro de 2023

O filme oferece uma visão pessoal das origens de Napoleão e de sua ascensão rápida e implacável ao império, vista através do prisma de seu relacionamento viciante e muitas vezes volátil com sua esposa e verdadeiro amor, Josephine.

Para uma figura histórica tão marcante, é impressionante que Napoleão Bonaparte não tenha tantas produções audiovisuais dedicadas à sua figura. Isso deixa o caminho livre para que, a partir de agora, tenhamos a imagem de Joaquin Phoenix em mente quando ouvirmos o nome do “grande” imperador. Enquanto Napoleão era um homem pequeno em estatura, sua mania de grandeza é fielmente retratada no novo filme de Ridley Scott com um orçamento tão grande quanto: 200 milhões de dólares, se tornando o segundo filme mais caro da carreira do diretor. É grande, também, em duração. A versão para o cinema tem um pouco mais de 2 horas e meia, mas ao que tudo indica, haverá uma versão disponível no Apple TV+ com mais de 4 horas.

O vencedor do Oscar Joaquin Phoenix parece ter encontrado sua vocação interpretando personagens masculinos melancólicos, taciturnos e de masculinidade frágil. Aqui, apesar de estar vivendo uma figura de personalidade ímpar, acaba caindo nessa mesma seara. Isso não é uma coisa negativa, é apenas a direção que a narrativa de Ridley Scott (com roteiro de David Scarpa) acaba tomando para contar (quase) toda a história de vida de Napoleão, começando numa cena poderosa, mas que o coloca apenas como um espectador atencioso: a decapitação de Maria Antonieta e a queda da monarquia na França. Um indicativo, também, de que apesar de um épico biográfico histórico, ainda se trata de uma obra de ficção que não deve ser levada como um manual de história (a cena do imperador atirando nas pirâmides do Egito é particularmente… Interessante). Depois, já vemos Napoleão em seu “habitat natural”, de uniforme numa batalha – e é nesse traje, que às vezes é fantasia, que ele permanece até o fim de seus dias.

Ridley Scott dirige um mesmo enredo com dois gêneros distintos: um épico de guerra e um romance fadado ao fracasso. São duas histórias que nem sempre andam juntas, mas têm seus pontos altos individualmente. É inegável que a parte da guerra é superior, as cenas de batalha são grandiosas e sensacionais e justificam os milhões gastos na produção. Os planos abertos com milhares de pessoas, cavalos e cenário são uma especialidade de Ridley Scott e aqui ele está em seu ápice, são momentos impactantes e inescrupulosos e as vezes que em Napoleão pode ser visto como um homem realmente extraordinário. Em contrapartida, fora dos campos de batalha e ocupando um lugar na nobreza, ele é muito menos impressionante e até mesmo a direção de Ridley Scott acaba deslizando, algumas cenas parecem corridas, com cortes que causam uma certa estranheza ao mostrar o avanço do tempo.

Algumas figuras históricas entram e saem durante o filme, mas apenas uma chega a realmente disputar o protagonismo com Napoleão e ela é Josephine, a quem Napoleão conhece e se apaixona praticamente à primeira vista. Josephine (a sempre especial Vanessa Kirby) é viúva de um nobre que não sobreviveu à onda de guilhotinas e, recém-saída da prisão, tem suas desconfianças, mas acaba cedendo a Napoleão e eles logo formam um casal improvável, mas aparentemente apaixonado. Josephine é uma figura instigante, mesclando diversas emoções em uma só pessoa, Napoleão até tenta se colocar no mesmo nível (ou acima), mas Josephine tem grande facilidade em colocá-lo em seu lugar, pelo menos dentro de seu casamento. É um romance que varia entre momentos de ternura em que chegamos a acreditar que talvez eles sejam mesmo almas gêmeas, ficamos sabendo de vários acontecimentos a partir de cartas escritas por Napoleão para Josephine, cheias de declarações e palavras de amor, mas outras vezes é mais difícil de acreditar que tenha sido realmente uma história de amor, principalmente quando os momentos de intimidade do casal parecem mecânicas e insensíveis, não por uma falha de Joaquin e Vanessa, mas por uma intenção da direção.

É confusa a forma como a vida amorosa de Napoleão é retratada, mas também é confusa a construção de sua personalidade como um todo e, consequentemente, do que o filme pretende ser. Na maior parte do tempo ele entretém só por ser. As grandiosas cenas de guerra, com direito à violência e gore (além do carisma natural de Joaquin Phoenix) e planos belíssimos, fazem o tempo passar rápido sem grandes problemas. Quando paramos para analisar, no entanto, a figura de Napoleão passa por fases contraditórias e a narrativa parece não decidir se Napoleão era um gênio ou apenas um homem comum que acreditava ser mais. Esse limbo, refletido no ritmo da história (e no tom, que vai de um humor seco a terror com frequência), impede que “Napoleão” seja a cinebiografia que podia ser, mas sem comprometer seu resultado final por completo.

 

Por Júlia Rezende

8

Missão cumprida

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