O Sequestro do Voo 375

O novo filme nacional, “O Sequestro do Voo 375” é muito mais do que um thriller aéreo. Dirigido por Marcus Baldini (Bruna Surfistinha), o filme explora o Brasil dos anos 1980, um período frequentemente rotulado como a “década perdida”, em meio à fragilidade econômica pós redemocratização, hiperinflação e mudanças políticas turbulentas que deixaram marcas no país.

A história se baseia em um caso real em 1988, onde um trabalhador chamado Nonato se rebela contra o presidente e as dificuldades de um Brasil em crise, onde resolve planejar o sequestro de um voo doméstico da VASP. Ciente das falhas de segurança no aeroporto de Confins, que não tem máquina de Raio-x, Nonato embarca com uma arma, determinado a desviar o voo para Brasília com o objetivo de matar o presidente do Brasil, José Sarney. Para evitar a tragédia, o piloto Murilo, se vê responsável pela vida de mais de cem passageiros abordos no avião, fazendo quase o impossível para deter o sequestrador.

Apesar dos efeitos modestos devido ao orçamento limitado, o filme se concentra na narrativa ágil que se desenrola principalmente dentro do avião, mantendo o espectador envolvido do início ao fim.

O diretor Marcus Baldini, recria o ambiente caótico da época com uma narrativa cheia de camadas politicas e reflexões sociais, que contrasta com os fatos de um dos crimes mais inacreditáveis do país. Com isso, a direção sabe guiar os atores a trazer uma carga dramática séria e nada caricata, construindo um thriller ágil e um ambiente sufocante.

Com um tom documental, o longa mostra imagens de acervo do Brasil dos anos 80 que se misturam com as cenas de ficção. Mostra que mesmo com o fim da ditadura militar, ainda é possível ver os resquícios daquele regime. E como o país estava em colapso, pois muitas famílias não conseguiam comprar nem o básico para se alimentar. Além disso, o roteiro faz um breve recorte sobre a gestão de Sarney, que são essenciais para trazer a base histórica para o público.

Esse cenário turbulento serve como plano de fundo para um embate intenso entre o comandante Murilo, interpretado por Danilo Grangheia, e o sequestrador Nonato, interpretado por Jorge Paz, que entregam atuações excepcionais. Os personagens transitam por momentos intensos, decisivos e realistas da trama, onde também dividem suas dores e semelhanças de vida.

Além de apresentar a história do sequestro em si, o filme lança luz sobre questões como xenofobia, sexismo e militarismo, oferecendo um panorama mais amplo da sociedade brasileira. Também destaca as escolhas drásticas do governo diante da crise, como ocultar informações, abuso de poder e falta de consideração pelas vidas das vítimas a bordo, refletindo sobre as prioridades governamentais em momentos críticos.

O filme sugere um fato intrigante: documentos relacionados ao caso do Voo 375 foram encontrados no esconderijo de Osama Bin Laden, insinuando a possibilidade de ele ter estudado esse incidente brasileiro para planejar os ataques de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos. Além disso, também destacam que os feitos do piloto Fernando Murilo, foram reconhecidos pela Força Aérea Brasileira, mas foi ignorado pelo presidente.

“O Sequestro do Voo 375” é um longa que retrata um evento marcante da história brasileira, que muitos de nós não conhecem, sendo uma ótima opção do gênero de true crime. Baldini tece uma narrativa instigante, trazendo à tona discussões sobre o país e sua sociedade de um episódio que moldou não apenas a segurança aérea, mas também a política e a vida das pessoas naquele momento conturbado da história brasileira.