6,8/10

Palimpsest

Diretor

Hanna Marjo Västinsalo

Elenco

Krista Kosonen, Leo Sjöman, Riitta Havukainen

Roteirista

Hanna Marjo Västinsalo

Estúdio

Thinkseed Films

Duração

109 min

Data de lançamento

22 de outubro de 2023

O que você faria se tivesse como viver a sua juventude novamente, mantendo a mente adulta e madura? O novo longa finlandês, “Palimpsesto”, os personagens vivem essa realidade de rejuvenescer, abrindo uma análise de como cada pessoa lidaria com essa segunda chance. Dirigido pela Hanna Västinsalo, o filme teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Veneza, e foi o vencedor do Prêmio Especial da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood na seção Biennale College Cinema do Festival. E chega agora no Brasil pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde ficará em cartaz nos dias 23/10 e 30/10 no Itaú Cinema do Frei Caneca.

Na trama, Tellu e Juhani já estão na casa dos 80 anos e dividem um quarto. Os dois são selecionados para participar de uma pesquisa médica de rejuvenescimento. Em um primeiro momento, ambos encaram o fato como uma segunda chance na vida. Mas, com as memórias do passado intactas, Tellu e Juhani percebem que o processo de rejuvenescer pode ser uma experiência bastante dolorosa.

Hanna Västinsalo estudou direção no American Film Institute Conservatory em Los Angeles, além de também possuir um PhD em genética molecular, um fato muito importante para analisar como a sua formação científica lhe proporciona uma perspectiva sobre a interseção entre ciência e envelhecimento. Ela cria um caminho humanizado do experimento, colocando em evidência mais o emocional dos personagens. No entanto, o filme peca na falta de exploração do funcionamento do experimento e na omissão das regras que governam a participação dos personagens. Além disso, a sociedade e seus dilemas éticos diante desse avanço científico poderiam ter sido mais bem explorados.

É interessante a abordagem sutil à ficção científica, onde no primeiro ato do filme a narrativa é totalmente direcionada para o drama, destacando as aflições de Juhani (interpretado por Antti Virmavirta na versão idosa), um personagem mais reservado e educado, que precisa lidar com seus problemas familiares, enquanto isso, ele divide o quarto com Tellu (Riitta Havukainen, na versão idosa), que tem a personalidade totalmente oposta a dele, sendo muito mais extrovertida e amável. Cada um tem os seus próprios objetivos, que vão tomando forma com o passar da história.

É no segundo ato que o longa se transforma em um sci-fi. A escolha de um elenco mais jovem para interpretar os mesmos personagens é uma decisão mais econômica por não utilizar a técnica de-aging nos atores, mas também demonstra como é possível adicionar elementos de ficção científica sem recorrer a efeitos especiais grandiosos, utilizando apenas da narrativa que mistura o real com o fantástico.

O roteiro é enriquecido pelo debate sobre como os personagens lidam com o rejuvenescimento e suas reações diversas. O conflito interno de Juhani e seu desejo de reviver o passado causam problemas com sua filha, que não aceita ter um pai que aparenta ter a mesma idade que ela, além de sentir raiva por não ter feito mais pela saúde de sua mãe. Com isso, Juhani se arrepende de ter feito o experimento que lhe deu uma segunda chance de ser joven, mas como não tem como reverter, ele para de rejuvenescer ainda mais e decide viver novamente a partir dos seu 20 e poucos anos, entrando na faculdade para realizar seu sonho de ser um astronauta. Em contrapartida, a transformação de Tellu é mais ousada, ela explora sua sexualidade, se diverte em noitadas e não pensa em ter nenhuma responsabilidade, tendo como desejo ficar cada vez mais jovem até esquecer de sua própria vida.

Um dos problemas do longa é o pouco aproveitamento em explorar as escolhas de Tellu, pois apenas sabe-se que ela guarda alguns traumas do passado, onde ela perdeu um filho e que possivelmente sofreu algum abuso. Falta para a personagem um momento mais dramático, que mostrasse mais de suas dores. Ela constrói uma amizade e intimidade com Juhani, que vira seu porto-seguro, mas mesmo assim nunca se abre totalmente com o melhor amigo. Isso é algo que incomoda, pois era a chance de construir mais camadas para a história da personagem, pois é ela quem toma a decisão mais radical possível e que afetará a vida também de seu amigo.

Em resumo, “Palimpsesto” é um filme que nos leva a refletir sobre as complexidades do envelhecimento e da busca pela juventude eterna. Com uma abordagem criativa da ficção científica e atuações notáveis, ele proporciona um olhar cativante sobre a transformação dos personagens e os desafios que surgem ao longo desse processo. Apesar de alguns problemas no roteiro, o filme oferece um ponto de partida para debates importantes sobre ética, identidade e o significado da vida. No final das contas, nos convida a questionar não apenas o envelhecimento, mas também as escolhas que fazemos em nossa jornada, e por que estamos aqui.

6.5

Em órbita

pt_BR