6,6/10

Plano 75

Diretor

Chie Hayakawa

Elenco

Chieko Baishō, Hayato Isomura, Stefanie Arianne,

Roteirista

Jason Gray, Chie Hayakawa

Estúdio

Sato Company

Duração

113 minutos

Data de lançamento

24 de abril de 2024

Em um Japão distópico, o programa governamental Plano 75 incentiva os idosos a serem voluntariamente sacrificados como solução para lidar com o envelhecimento da sociedade. Neste contexto, uma senhora idosa cujos meios de sobrevivência estão desaparecendo, um vendedor do Plano 75 pragmático e uma jovem trabalhadora filipina precisam enfrentar escolhas entre a vida e a morte.

Em uma sociedade envelhecida e em constante mudança, “Plano 75”, dirigido pela japonesa Chie Hayakawa, lança um olhar sobre um futuro distópico, onde a eutanásia dos idosos é não apenas uma opção, mas uma política oficial.

O filme que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, dia 24, é ganhador de uma Menção Especial no Caméra D’Or do Festival de Cannes 2022, na seção Um Certo Olhar. O longa tem roteiro escrito pela diretora Hayakawa e Jason Gray e se situa num Japão distópico. Para conter o envelhecimento da população, a Lei 75 é aprovada, segundo a qual, cidadãos e cidadãs a partir de 75 anos podem se inscrever para uma eutanásia em troca de mil dólares para gastar antes de morrer ou então deixar para a família. O programa se torna um sucesso e uma nova lei começa a ser discutida para baixar a idade do Plano para 65 anos.

A cena inicial já causa um grande impacto ao mostrar um massacre em um asilo, onde o assassino justifica que seus atos são em prol do futuro socioeconômico o Japão, o que acaba inspirando o governo a tomar a decisão de criar o plano 75. A “banalidade do mal”, como descrita por Hannah Arendt, permeia o filme, destacando como a burocracia pode desumanizar até mesmo as decisões mais graves na vida de uma pessoa.

O filme reside na história de três protagonistas: Michi Kakutani (Chieko Baishô), uma idosa que não tem família e precisa continuar trabalhando para se sustentar; Hiromu Okabe (Hayato Isomura), um funcionário do Plano 75, que acaba atendendo o próprio tio idoso, o que causa um crise ética e pessoal; e Maria (Stefanie Arianne), uma jovem imigrante filipina, que precisa desesperadamente de dinheiro para pagar o tratamento de sua filha doente. Os personagens que se cruzam muito rapidamente no filme, traçam experiências e perspectivas diferentes um do outro em relação as complexidades morais e emocionais que cercam o Plano 75.

Segundo a diretora Chie Hayakawa, a narrativa que mesmo sendo uma ficção, tudo que é retratado politicamente no filme existe. “(…)O fato de que há tantos idosos que precisam trabalhar por causa do sistema previdenciário frágil, que eles têm dificuldade em encontrar um lugar para viver, que se sentem excluídos da sociedade e que tendem a hesitar em procurar ajuda para a previdência por sentimento de vergonha. Existe um clima de pressão sobre os idosos que faz com que se sintam inúteis. A intolerância, a apatia e a falta de sensibilização em relação à dor dos outros são as coisas mais ameaçadoras que quero retratar neste filme”, explica a diretora.

Com isso, a eutanásia dos idosos é apresentada não como uma solução fácil, mas como um dilema ético profundo que reflete as prioridades de uma sociedade em constante mudança. Enquanto o governo japonês defende o plano como uma medida de responsabilidade fiscal, o filme revela as ramificações humanas e sociais de tal política.

Além disso, “Plano 75” ressoa com a ideia contemporânea de necropolítica, onde a vida e a morte são politizadas para servir aos interesses do capital. Ao expor as consequências desumanizadoras de uma política que incentiva a morte dos menos úteis, o filme ecoa questões urgentes enfrentadas por sociedades em todo o mundo.

“Plano 75” é um testemunho poético e melancólico da fragilidade da vida e da complexidade da moralidade. Em meio a uma paisagem distópica, os personagens lutam para encontrar significado e dignidade em um mundo que parece ter perdido ambos.

8

Missão cumprida

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