
Thunderbolts*
Diretor
Jake Schreier
Elenco
Florence Pugh, Sebastian Stan, Julia Louis-Dreyfuss
Roteirista
Eric Pearson, Joanna Calo e Kurt Busiek
Estúdio
Marvel Studios
Duração
126 minutos
Data de lançamento
30 de abril de 2025
A Marvel tem vivido seus anos mais recentes sob uma eterna promessa de que algo grandioso estaria por vir. Em vez de cada produção servir o seu propósito, o foco sempre estava no macro e a jornada dos personagens de cada filme parecia descartável, um meio para um fim e nada mais. O lançamento de Thunderbolts*, com personagens relativamente novos, ainda carregando um certo frescor, e um enredo que nos permite uma relação mais profunda tanto com os personagens quanto com suas dores e motivações, traz uma pontada de esperança para o futuro da Marvel, enquanto se consagra como um bom filme por si só.
Dentro da complicada e sobrecarregada linha do tempo da Marvel, Thunderbolts* reúne um grupo de desajustados que jamais seriam colocados juntos a não ser por circunstâncias extremamente específicas, como é o caso aqui. Após sua estreia em uma das cenas pós-créditos de “Viúva Negra”, Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfuss) retorna ao UCM, ocupando uma posição estratégica para o governo – ao que tudo indica, ela é está por trás de diversas missões relacionadas a super-heróis (tudo por debaixo dos panos), mas uma investigação que está em curso coloca seus planos e discrição em risco e uma das soluções envolve enviar os super-heróis que estão trabalhando para ela numa última missão: eliminar uns aos outros. Sem que eles saibam, é claro. É assim que Yelena (Florence Pugh), John Walker, o Agente America (Wyatt Russell), Ava Starr, a Fantasma (Hannah John-Kamen), Antonia Dreykov, a Treinadora (Olga Kurylenko) e a figura misteriosa e aparentemente inofensiva de Bob (Lewis Pullman) são obrigados a juntar forças para fugir da armadilha de Valentina. Enquanto os quatro primeiros têm em comum o fato de serem super-heróis, Bob parece fazer parte de algum tipo de experimento que deu errado, ele não entendo o porquê nem como foi parar lá, mas sua presença logo se tornará um ponto chave de Thunderbolts*.
Ainda que o novo filme fuja de diversas fórmulas prontas da Marvel, algo que não mudou (e talvez seja impossível de mudar a essa altura) é a necessidade de ser um grande conhecedor do Universo Marvel para ser capaz de acompanhar a história em sua completude. Nenhum personagem é apresentado e é apenas esperado que você esteja familiarizado com a Valentina, o Agente Americano, a Yelena e também aqueles que acabam se juntando ao grupo no meio do caminho: Bucky Barnes, o Soldado Invernal (Sebastian Stan) que agora é um senador e Alexei Shostakov, o Guardião Vermelho (David Harbour) que quer retornar aos seus dias de glória e tem Yelena como uma filha. Por estranho que pareça, no entanto, a falta de conhecimento do passado dos personagens não chega a interferir na relação deles com o público, graças à disposição da Marvel de, enfim, se importar não com o objetivo futuro, e sim de dar tempo e ferramentas para que os personagens se tornem humanos, com falhas e tudo mais.
Thunderbolts* é um filme de super-heróis mas, mesmo quando têm que salvar o mundo de um vilão, eles são extremamente palpáveis e suas dores relacionáveis. Ver um filme como esse abordando questões de saúde mental não era o que eu estava esperando, mas o resultado não poderia ter sido mais positivo. Yelena, que funciona como uma protagonista (esse é um filme da Florence Pugh), é uma personagem completa, multifacetada e o ponto de partida para uma conversa surpreendentemente vulnerável sobre saúde mental, que acaba sendo explorada, em diferentes níveis, por todos os demais personagens e alcança seu ápice com Bob; ele é um experimento, fruto dos planos de Valentina, e traz em si uma dor e angústia que acabam se refletindo diretamente em seus super-poderes: qual o poder de uma pessoa machucada e desesperada? É tão ruim quanto você pode imaginar e, apesar da ação inevitável (e divertida também), a verdadeira batalha enfrentada pelos Thunderbolts* é majoritariamente emocional.
Falando agora sobre a parte mais “Marvel”, Thunderbolts* (assim como todo o resto) constrói uma ponte para o futuro do UCM, com cenas pós-créditos e tudo mais para manter acesa a chama da expectativa do que ainda está por vir – dessa vez, a promessa é ainda maior e mais esperada, resta saber se esse é o início de um novo e mais emocionante caminho ou apenas um pequeno desvio.
Por Júlia Rezende