8.4/10

Treta

Diretor

Gênero

Ação , Comédia , Drama

Elenco

Steven Yeun, Ali Wong, Joseph Lee

Roteirista

Lee Sung Jin

Estúdio

Netflix

Duração

35 minutos

Data de lançamento

06 de abril de 2023

Um incidente no trânsito desperta a fúria e os impulsos mais sombrios de dois desconhecidos: um empreiteiro falido e uma empresária frustrada.

Dentre os diversos de títulos sendo lançados pelos diversos serviços de streaming, é cada vez mais difícil encontrar aqueles que se destacam não pelo seu marketing agressivo, milhões de horas de exibição nas primeiras horas ou momentos que viralizam nas redes sociais e sim puramente por sua qualidade. Mais difícil ainda encontrar aqueles que são de uma qualidade ímpar em todos os aspectos: roteiro, direção, elenco etc. “Treta”, a nova série da Netflix produzida pelo estúdio A24, tem tudo isso e já garante um lugar na lista de melhores séries do ano – tudo bem que ainda é abril, mas não será fácil tirá-la de lá.

Criada por Lee Sung Jin e protagonizada pela comediante Ali Wong e o indicado ao Oscar Steven Yeun, “Treta” é uma surpresa ainda mais agradável a cada um de seus dez episódios. De forma honesta, engraçada e extremamente reflexiva, a série lida com temas como a raiva, a reatividade, ciclos viciosos e o real sentido da vida, tudo isso com a relação da cultura ocidental com a cultura asiática como plano de fundo, construindo uma narrativa única.

Danny Cho (Steven Yeun) e Amy Lau (Ali Wong) não poderiam ser mais diferentes, eles vivem em áreas opostas de Los Angeles, Danny não tem nada, Amy, aparentemente, tem tudo. No entanto, suas vidas se entrelaçam no que começa como uma simples briga de trânsito depois de um dia ruim e vem a se tornar uma verdadeira guerra, escalando a cada resposta de vingança vinda de ambas as partes. Ao longo do desenvolver das situações, conhecemos mais da vida e das origens de Danny e Amy e descobrimos que apesar das diferenças que não poderiam ser mais óbvias, os dois têm em comum suas questões mais profundas.

Amy é uma empresária “self-made”, sem dinheiro de família, através de seu esforço – e sempre colocando suas próprias necessidades em segundo (ou último) plano – se tornou uma grande empresária com um negócio de plantas, ela é casada com George (Joseph Lee), filho de um artista japonês já falecido, e mãe da pequena June (Remy Holt). Nos últimos anos, Amy tem trabalhado incessantemente para fechar um negócio de 10 milhões de dólares e vender sua empresa para que possa se aposentar e se dedicar inteiramente à sua filha. Apesar da vida tranquila financeiramente, o custo para manter esse padrão é a sua paz e saúde mental, ela passa cada segundo do dia se esforçando para passar a todos a imagem de uma mulher bem resolvida e plena, até que um dia buzina para um cara no estacionamento de uma loja e ele está tão no limite quanto ela.

Danny Cho é o filho mais velho de um casal de imigrantes coreanos que tinham um motel nos EUA, mas tiveram que voltar para a Coreia do Sul quando seu motel foi fechado. Ficaram nos EUA Danny e Paul (Young Mazino), seu irmão mais novo. Os dois tem uma relação um tanto perturbada e desde a infância passam por dificuldades financeiras, o que só piorou depois que ficaram sem o motel. Danny trabalha duro para tentar comprar um terreno e trazer seus pais de volta da Coreia, ao mesmo tempo que tenta fazer seu irmão amadurecer e trabalhar como ele. Sua vida é uma grande sucessão de decepções e Danny mal está sobrevivendo quando buzinam para o seu carro no estacionamento de uma loja.

“Treta” tem tudo a seu favor, inclusive sua ousadia. Existem muitas maneiras de contar uma história de vingança, mas “Treta” é muito mais que isso e a vingança é apenas um artifício para lidar com assuntos muito mais pungentes. Com diálogos afiados, situações inusitadas e personagens multifacetados (todos eles, não só os protagonistas), somos convidados a fazer perguntas cujas respostas não são, nem devem ser, de fácil alcance. A série fala também da dificuldade de se romper ciclos e de lutar contra os impulsos mais óbvios em vez de tirar a máscara que criamos para a sociedade e vivermos o que, de fato, queremos e precisamos.

Por Júlia Rezende

10

Missão cumprida

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