7.6/10

Uma Vida

Diretor

James Hawes

Gênero

Drama

Elenco

Anthony Hopkins, Lena Olin, Johnny Flynn

Roteirista

Lucinda Coxon e Nick Drake

Estúdio

Diamond Films

Duração

110 minutos

Data de lançamento

14 de março de 2024

Acompanha o humanitário britânico Nicholas Winton, que ajudou a salvar centenas de crianças dos nazistas às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

É muito provável que você, em algum momento, já tenha ouvido falar da história de um homem que ajudou a salvar a vida de centenas de crianças durante a Segunda Guerra Mundial. Esse homem era Nicholas Winton e sua história já inspirou documentários, especiais de TV e uma biografia escrita por sua filha. Essa biografia serviu de inspiração para o filme “Uma Vida”, em que conhecemos com mais detalhes a vida de Nicky Winton, que começou como um “simples” corretor de ações britânico sem qualquer ligação direta com a guerra, mas que se sentiu tocado o suficiente para resolver tomar uma atitude de qualquer forma.

O filme é dividido em duas partes bem distintas em relação à narrativa e à estética, tanto que poderiam até mesmo ser dois filmes diferentes. Na primeira delas, conhecemos Nicky (Anthony Hopkins) nos anos 80, ele é um senhor que vive numa casa modesta, mas confortável, com sua esposa Grete (Lena Olin). Eles conversam sobre alguns itens do passado de Nicky que ele não sabe se deve guardar ou repassar para alguma pessoa ou lugar em que poderiam ser melhor apreciados. O principal objeto é um scrapbook montado por ele durante a Segunda Guerra com todos os documentos e arquivos relacionados às centenas de crianças que ele salvou e nunca fez questão de se vangloriar por isso, mas mexer nesses artefatos do passado traz à tona suas memórias e somos levados, através de flashbacks, para conhecer seus feitos. 

Contrapondo com as cenas de tons mais quentes e movimentos de câmera mais estáveis, quando vamos para o passado de Nicky damos de cara com um ambiente bem menos acolhedor, mesmo enquanto Nicky ainda está na Inglaterra. Ele ouve sobre os horrores da Guerra, mas quer ver com os próprios olhos e viaja para Praga. Lá, ele observa a realidade das pessoas vivendo em condições inóspitas, crianças longe de seus pais, famílias inteiras morando nas ruas e em completo desespero pelo futuro. Nicky não é obrigado a estar ali, tampouco obrigado a fazer algo a respeito, mas sua natureza empática é ressaltada e ele decide que, em sua posição privilegiada como britânico e sem envolvimento com os oponentes, ele pode – e deve – ajudar. 

Antes da invasão da Alemanha na Polônia, Nicky se junta a um grupo que já agia clandestinamente naquele local e utiliza seus contatos, assim como a ajuda de sua mãe (Helena Bonham Carter) na Inglaterra, e foca seus esforços para salvar o máximo de crianças possível. O movimento deles era evacuar crianças, a vasta maioria judias, para a Inglaterra, onde elas seriam cuidadas por famílias voluntárias, até que seus pais conseguissem (se conseguissem) fugir também. Há um certo senso de angústia na direção de James Hawes durante essas partes do filme, mas ainda fica a sensação de que ele não está indo tão longe quanto poderia. Não que fosse necessário explorar esse arco abusando no drama e na dificuldade dessas pessoas no período de guerra, mas a luta de Nicky e seus grupos contra o nazismo e o sistema como um todo certamente poderia ter passado mais emoção. 

De qualquer forma, a realidade é que a história de Nicholas Winton é comovente o suficiente por si só. Não só apenas pela história, mas pela figura de Nicky e essência bondosa. Enquanto jovem, interpretado por Johnny Flynn, é mais levado pela narrativa e pela interação com as crianças e aliados, mas quando idoso, principalmente quando chega a parte em que descobrem sobre suas boas ações do passado, o carisma irreverente de Anthony Hopkins entra em voga e o resultado é o que já podemos esperar de um ator do porte de Hopkins, mesmo quando é necessário demonstrar uma força muito mais contida em razão da humildade inerente ao personagem. É, sem dúvidas, uma história emocionante, ainda que a estrutura do enredo e a direção sigam pelo caminho mais óbvio e menos inovador para histórias dessa natureza. No final, a mensagem desse “herói da vida real” é passada, e é capaz de renovar as esperanças de que há bondade genuína mesmo nos momentos mais sombrios.

 

Por Júlia Rezende

8.5

Missão cumprida

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