7.9/10

Zona de Interesse

Diretor

Jonathan Glazer

Gênero

Drama

Elenco

Christian Friedel, Sandra Hüller, Johann Karthaus

Roteirista

Jonathan Glazer

Estúdio

A24

Duração

105 minutos

Data de lançamento

15 de fevereiro de 2024

Em ZONA DE INTERESSE, Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente bucólica em uma casa com um jardim ao lado do campo de concentração.

Filmes sobre as atrocidades da Segunda Guerra são sempre difíceis de assistir, até aqueles que usam uma abordagem mais “otimista” de toda a situação, mas são poucos os que conseguem produzir cenas tão viscerais sem recorrer à violência. Em “Zona de Interesse”, Jonathan Glazer tem uma visão muito clara de como ele quer contar a história de Rudolf Höss, um comandante de Auschwitz, e segue essa visão à risca, de forma quase engessada, do começo ao fim. Glazer deixa sua assinatura muito bem marcada, ao ponto de sobressair em relação, até mesmo, à narrativa, o que pode levantar uma questão sobre seu intuito ao escolher contar essa história específica. A distância criada entre câmera e personagens é uma distância que fica entre espectador e enredo e, mesmo com todas as situações extremas, às vezes fica também a dificuldade de se conectar com a história de forma mais profunda. 

“Zona de Interesse” era o nome real dado à uma área dentro do complexo de Auschwitz que abrigava seus comandantes e é também o nome do livro de Martin Amis que inspirou o filme. Dentro dessa “Zona de Interesse”, que dividia muros com o campo de concentração e os horrores que ali ocorriam, viviam os comandantes e suas famílias, entre eles o Rudolf Höss (Christian Friedel), sua esposa Hedwig (a indicada ao Oscar Sandra Hüller) e seus filhos que variam em idade. Eles parecem, e são, dentro de seus padrões, uma família absolutamente comum: sua rotina é pacata, eles fazem piqueniques, nadam no lago, se encontram com vizinhos e conhecidos. Por trás, no entanto (e como sugere a abertura do filme), algo muito mais sério está acontecendo e quando digo “por trás”, é literalmente. Os muros que dividem a fronteira física de sua propriedade é a única coisa que afasta essa família comum de um dos piores acontecimentos da sociedade contemporânea, o holocausto. E por mais que existam muros, eles só são capazes de esconder os horrores dos olhos, enquanto esses ainda se fazem presentes e notáveis pelo som, pela fumaça e pelo conhecimento. A obra de Glazer se levanta sobre a banalidade com a qual a família e envolvidos encaram o que está acontecendo do outro lado. Todos sabem, em detalhes, nada é disfarçado, nada é minimizado, apenas ignorado. 

Até mesmo a “trama central” da família não diz respeito às ações de Höss em relação ao povo judeu, o único ponto de conflito entre o comandante e sua esposa é o fato de que ele está para ser promovido e realocado para outra cidade na Alemanha, mas Hedwig, ou Hedy, quer ficar em Auschwitz, nem que seja sem o marido – um indicativo do quanto ela não se sente afetada pelo que acontece ao seu redor. Essa indiferença latente é traduzida por Glazer para as telas com ângulos e movimentos de câmera rígidos e uma linguagem dura, construída por recortes da rotina da família através dos pontos de vista de seus próprios membros, sempre nos mostrando uma visão externa dos acontecimentos, seja física ou emocional. Outras técnicas empregadas por Glazer se destacam, como momentos em preto e branco, cenas filmadas com câmera termográfica e uma sequência mais experimental, bem distinta do restante do filme, mas que demonstra a decisão de Glazer de fazer um (na falta de expressão melhor) “filme de arte”. 

“Zona de Interesse” apresenta uma história de terror com elementos opostos ao gênero, sem exageros, controlado, restrito. Gritos são ouvidos apenas ao fundo, mas para a família, eles não passam de ruído branco. É uma forma de abordar os horrores do holocausto sob uma perspectiva dura, pouco explorada por outros obras da mesma natureza, mas deixa de apresentar uma questão, uma interrogação ou até mesmo de expor qualquer tipo de ponto de vista do próprio autor, ou das vítimas. Não que uma obra tenha o dever de ser parcial – essa certamente foi mais uma decisão de Glazer, mas impossibilita uma conexão maior entre obra e espectador. Depois de assistir, você provavelmente não vai esquecer do filme em que comandantes nazistas levavam a vida numa boa enquanto judeus eram incinerados do lado de suas casas, é sim um filme marcante. Mas essa lembrança não vem necessariamente acompanhada de alguma reflexão em si, além do que outros filmes com essa temática já propuseram no passado. 

 

Por Júlia Rezende

7.5

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