DEUSES DO EGITO

‘Deuses do Egito’ é o tipo de filme “caça-níquel” que prioriza os efeitos especiais e é desleixado com o roteiro, atuações e demais aspectos técnicos. Essa espécie de audiovisual é quase sempre um fiasco de crítica, mas sobrevive por que agrada o público médio, que vai aos cinemas em busca de diversão e nenhuma reflexão. Esse mercado de audiovisuais de ação tem enchido os bolsos dos produtores, motivo pelo qual ele só cresce, com diversos lançamentos nos últimos anos, que diminuem cada vez mais a credibilidade dos “arrasa-quarteirões” hollywoodianos.

Longas-metragens do tipo “blockbuster” recebem críticas negativas desde sua popularização nos anos 70 com ‘Tubarão’ (1975) e ‘Star Wars’ (1977), atualmente se estendendo ao mercado de filmes de heróis, principalmente dos cinéfilos e críticos amantes da Nova Hollywood e do cinema Europeu. Porém, as produções de Steven Spielberg, George Lucas e mesmo os do Marvel Estúdios, mantiveram uma qualidade reconhecida ao longo dos anos como uma forma de “arte pop”, principalmente por sua capacidade de se conectar com o público e sua evolução nos efeitos especiais. Entretanto, suas habilidades em arrecadar dinheiro nas bilheterias despertaram um “nicho” de longas que se apoiam principalmente na ação e nos efeitos gráficos, para agradar um público menos exigente, produzindo algumas aberrações na opinião de quem gosta de um cinema mais esmerado, como ‘Imortais’ (2011) e ‘Frankenstein – Entre Anjos e Demônios’ (2014).

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O diretor de ‘Gods Of Egypt’ (no original) é Alex Proyas, conhecido principalmente pelos filmes ‘O Corvo’ (1994) e ‘Dark City: Cidade das Sombras’ (1998). E foi exatamente com esses longas-metragens, especialmente ‘Dark City’, que ele se destacou no final dos anos 90 por utilizar efeitos visuais como linguagem para fazer elogiados longas, do gênero “cine pipoca”. Infelizmente, ainda que Proyas tenha alguma afinidade com o tema de seu novo trabalho, visto que ele nasceu no Egito, apesar de ter crescido e se naturalizado na Austrália, ele não consegue repetir suas qualidades demostradas em seus primeiros filmes.

Evidente que a responsabilidade na falta de qualidade não é apenas do diretor e demais envolvidos com os aspectos técnicos. Mesmo que Alex Proyas tenha se especializado em filmes medianos de ação nos últimos anos, como ‘Eu, Robô’ (2004) e ‘Presságio’ (2009), nenhum deles é tão desleixado e esquecível quanto ‘Deuses do Egito’. O descuido com que se produzem este tipo de longas “desnecessários” é responsabilidade de todos que alimentam esse mercado, dos produtores, ao público que paga pelos ingressos. Ainda que talvez a sua existência seja minimamente justificada pela capacidade de proporcionar duas horas de distração escapista, para as pessoas que vão às salas de cinema nos finais de semana.

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Os aspectos negativos mais relevantes do longa-metragem estão na negligência do roteiro e na forma equivocada como são utilizados os efeitos especiais. O roteiro é escrito por Matt Szama e Buk Sharpless, ambos de filmes de gênero parecido e igualmente de qualidade questionável como ‘Drácula: A História Nunca Contada’ (2014) e ‘O Último Caçador de Bruxas’ (2015). A Direção de Arte se apoia demais nos efeitos gráficos, que ficou a cargo de Michael Turner que já fez um trabalho mais satisfatório em ‘O Grande Gatsby’ (2013), mas que aqui deixou com que a “artificialidade” das imagens atrapalhasse a narrativa, lembrando muito cenas de CG feitas para os jogos eletrônicos. Grande parte do longa, lembram as “cutscene” de games como ‘God Of War’, que apesar de serem aceitáveis para os videogames, geram muita estranheza no cinema.

Outra crítica que o longa-metragem já enfrentou, antes mesmo de seu lançamento nas salas de cinema, foi em relação à escolha étnica dos atores. Esse fato chegou a fazer com que o estúdio e o diretor se desculpassem nas redes sociais. Erro este que sempre aconteceu em Hollywood e que não é exclusividade deste filme. Basta se lembrar de recentes como ‘Êxodo: Deuses e Reis’ (2015) de Ridley Scott, que também tiveram um elenco predominantemente branco para retratar povos egípcios e hebraicos.

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Mesmo que o elenco se esforce para entregar alguma “verdade” para o enredo, não há como suas performances salvarem a história. Nikolaj Coster-Waldau (Game Of Thrones) que interpreta o deus Horus, tenta estabelecer alguma parceria em tela com o ator Brenton Thwaites (O Doador de Memórias), que vive o mortal Bek e que não formam, de todo, uma dupla desprovida de carisma. Porém, até o efeito que utilizam para fazer com que os deuses fiquem fisicamente mais altos do que os mortais, atrapalham na interação dos dois. Assim como são desperdiçadas às atuações de Geoffrey Rush, que faz o deus Ra e pouco aparece; e de Gerard Butler, que até por seu personagem lembrar demais o Rei Leonidas de ‘300’ (2006), não ajuda quando está em cena. Sem mencionar as personagens femininas das belas Elodie Yung e Courtney Eaton, que são mais uma vez meramente secundárias e acessórias, como na maioria deste tipo de filme.

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