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Um dos filmes a ser exibido no Festival Varilux de Cinema Francês deste ano é a “dramédia” ‘A Corte’, dirigida por Christian Vincent. O filme foi bastante aclamado no Festival de Veneza, ganhando inclusive o prêmio de Melhor Roteiro. Na história, Michel Racine (Fabrice Luchini) é um juiz – o termo correto segundo ele é presidente da corte – que é implacável e conhecido pelo seu estilo linha dura de trabalho. Entretanto, a presença de uma jurada (Sidse Babett Knudsen) no seu novo julgamento o deixa inquieto, dando a entender que algo do seu passado está prestes a vir à tona.

O crime cometido em questão é um caso bem grave, onde um homem está sendo acusado pela sua esposa de ter matado sua filha pequena a chutes. O diretor tenta aumentar o suspense através da atitude contraditória do acusado, que se recusa em responder simples perguntas, alegando apenas “não tê-la matado”. O que torna o filme bem interessante é a maneira como o diretor aborda os bastidores de um julgamento do ponto de vista do juiz, com sua preparação e suas preocupações antes de entrar na corte. Alguns diálogos no início do filme são muito bem escritos e rendem boas cenas – como a do almoço dos jurados – onde conhecemos mais sobre cada um deles, e lembram vagamente o clássico ‘12 Homens e uma Sentença’ (1957).

O filme começa muito bem, até como eu mencionei, pela forma como vemos os bastidores de como um juiz se comporta em seu ritual pré-julgamento, também o sorteio dos jurados que participarão da corte e a própria interação deles enquanto discutem o caso. Soma-se a isso a um elemento interessante, que é o mistério sobre a personalidade do juiz Michel, sempre parecendo que esconde alguma coisa, andando desconfiado pelas ruas, o que acaba adicionando certo suspense à trama. Fabrice Luchini se destaca no papel do protagonista, atuando de forma bastante convincente como um homem temido pela sua profissão, mas hesitante por não confiar nas pessoas que o acercam. E quando o interesse romântico entra em cena, toda sua fisionomia e atuação mudam, visivelmente de forma incômoda para o personagem, demonstrando um grande trabalho de interpretação.

Mas, se engana quem pensa que ‘A Corte’ irá focar apenas no drama do caso que está sendo julgado. Em determinado momento, a trama criminal se mistura com um romance quase que “proibido”, deixando o filme bem mais leve a partir daí. Esse talvez seja o grande problema do filme, aos poucos a tensão e o mistério do julgamento vão se dissipando, à medida que a relação entre os dois vai ganhando muito destaque e também minutos na tela. Pois desta forma, o filme abandona o desenvolvimento do julgamento e sua relevante questão que construía de maneira bem intrigante para concluí-lo de forma extremamente relapsa.

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O romance também deixa bastante a desejar, pois se vamos tratar de amor ou atração, precisa haver paixão para convencer o espectador de que há um sentimento plausível sendo demonstrado. Especialmente no caso de um amor proibido, onde os personagens têm o conflito de buscar a felicidade juntos, apesar da sensação de que não devem ou podem persistir no romance. Essa trama no filme é abordada de forma muito fria e distante, por meio de alguns diálogos que funcionam de forma apenas explicativa, para que o espectador entenda a relação passada do casal.

Portanto, ‘A Corte’ não oferece soluções coerentes para nenhuma das duas tramas mais importantes que abordam – tanto o romance quanto o julgamento. Apesar de um início muito promissor, especialmente quando mostra os bastidores da corte e na forma como os jurados expõem seus pontos de vista sobre o caso, o filme se perde do meio para o final ao priorizar um romance “sem sal” entre os dois protagonistas, através da mensagem de que “as pessoas que se amam têm que ficar juntas”. Com um veículo tão rico de comunicação com o público como é o cinema, expressar esse sentimento através de ações dos personagens ou estímulo visual (como um flashback que mostrasse a aproximação dos dois no passado, por exemplo) seria bem mais gratificante do que da forma burocrática como foi apresentado. Não é de todo ruim, tem elementos interessantes, mas de modo geral deixa a desejar pela falta de foco na forma de contar sua história.

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