the-9th-life-of-louis-drax-xxlg-12agosto2016
‘Um mistério além da realidade’.

Louis Drax (Aiden Longworth) está completando nove anos de idade. Mas Louis não é um garotinho comum, durante toda sua vida teve uma propensão a acidentes muito acima do normal, até que a queda de um penhasco pode ter sido o acidente fatal, deixando Louis em coma. Na tentativa de entender as circunstâncias que fazem Louis sofrer tantos acidentes, o Dr. Allan Pascal (Jamie Dornan, o Christian Grey de ‘Cinquenta Tons de Cinza’) embarca em busca de respostas em um mistério que vai além do mundo real e envolve também os pais do garoto, Peter (Aaron Paul, de ‘Breaking Bad’) e Natalie (Sarah Gadon, de ‘O Homem Duplicado’). A direção é do francês Alexandre Aja, de ‘Viagem Maldita’, ‘Espelhos do Medo’ e ‘Amaldiçoado’. O roteiro marca a estreia de Max Minghella, mais conhecido por seus papéis como ator – em ‘A Rede Social’ ele é o amigo dos gêmeos que estão processando Zuckerberg – e filho do oscarizado e falecido escritor/diretor Anthony Minghella.

O filme é adaptado do livro de Liz Jensen e curiosamente era um dos projetos na mente de Anthony Minghella antes de falecer, portanto, é interessante que seu filho tenha continuado o projeto por ele. O filme começa apresentando o jovem Louis de forma bem leve em tom de brincadeira, quase como um filme infantil, fazendo aquele que for ver ao filme ‘desavisado’ ter uma bela surpresa quando houver essa mudança de tom e a trama ficar bem mais sombria. Mas, conhecendo os trabalhos anteriores do diretor (todos suspenses sobrenaturais ou terrores ‘slasher’), ficaria bem fácil prever isso, é verdade. O resultado desta mistura de tons, digamos assim, se aproxima de um ‘Labirinto do Fauno’, por exemplo, onde temos a inocência de uma criança, elementos e criaturas fantásticos e um pano de fundo bem mais pesado, no caso deste filme, doenças como a Síndrome de Munchausen, que são debatidas ao longo da trama. Mas será que em termos de qualidade a produção se aproxima do elogiadíssimo filme do ‘Fauno’?

Bom, primeiramente a parte infantil e a sombria do filme não funcionam organicamente. Isso ocorre porque a premissa é apresentada em um contexto leve e nos outros dois terços do filme é completamente abandonada, dando a entender que estamos diante de um novo filme. Qualquer contador de histórias sabe que é na premissa (ou primeiro ato) que o espectador vai ter o primeiro contato com o universo, com os personagens e com a história que vai ser contada. Comediantes também são assim, eles preparam seu público contextualizando a piada com uma historinha e só depois dão o ‘punchline’, ou seja, surpreendem com uma tirada engraçada. A transformação e a mudança são coisas extremamente importantes em um filme, mas desde que ocorram de forma natural ao decorrer da história, e da forma brusca como ocorre em ‘Louis Drax’ causa certa estranheza. As atuações do elenco também não ajudam muito. O garotinho Aiden convence como uma criança diferente, mais madura do que os garotos de sua idade, mas não aparece tanto (por estar em coma, obviamente). Os mais exigidos são Sarah Gadon e Jamie Dornan, que não são tão conhecidos por sua enorme capacidade dramática de atuação (vide ‘Cinquenta Tons de Cinza’), mas tinham material em mãos para entregar atuações bem mais viscerais – afinal são uma mãe que quer que o responsável pelo ‘acidente’ do filho seja preso e um médico que quer desvendar esse mistério a todo custo. Mas ao invés disso, temos atuações bem frias e apagadas que não condizem com o tipo de filme no qual estão (não é à toa que thriller vem da expressão ‘thrill’, que quer dizer emoção).

O outro ponto essencial para o filme, o mistério em si, é intrigante. Normalmente, por estarmos acostumados a assistir muitos filmes passamos a reconhecer certos padrões em filmes de mesmo gênero e meio que ‘prevemos’ o que vai acontecer. Aqui em ‘A Nona Vida de Louis Drax’, isso não ocorre. Por mais que a forma como a história é contada seja pouco original (alternando os dias atuais com flashbacks que vão se revelando aos poucos), há sempre uma atmosfera de incerteza pelo que aconteceu com o jovem Louis e pelo que ainda vai acontecer com os outros personagens, e isso é bem interessante. Em termos técnicos, a produção é bem decente também, há alguns efeitos visuais que não chamam a atenção nem por serem tão bons, mas também nem por serem tão ruins (o que não prejudica a imersão na história). Esteticamente, a parceria de Alexandre Aja com o diretor de fotografia Maxime Alexandre funciona mais uma vez – como havia acontecido em ‘Viagem Maldita’ – pois juntos, sabem muito bem como captar a atenção do espectador e dar informações com a linguagem ‘não verbal’ do filme. As cores expressam bem o que a história está contando. Durante a investigação, por exemplo, a paleta acinzentada e as cores lavadas – além de remeterem a atmosfera ‘noir’ de filmes investigativos – reforçam a sensação de que o mundo dos personagens depois do coma de Louis está cada vez mais sem vida, em contraste com as cores bastante saturadas dos flashbacks de antes do acidente. É claro que não há nada de ‘novo’ nisso, mas funciona.

Concluindo, ‘A Nona Vida de Louis Drax’ acaba decepcionando por desperdiçar uma história de potencial bem interessante. Há boas surpresas no filme, o mistério consegue ser realmente intrigante, mas fica a sensação de falta de ritmo e consistência no filme (a condução muito lenta da trama pode entediar muito fácil o espectador que não conseguiu se envolver com a história). Alexandre Aja mais uma vez consegue caprichar na estética do filme, mas falha na direção dos atores, e pela carga dramática que a história possui essa era oportunidade ideal para ele se provar como um diretor que pode ir muito além dos vários suspenses sobrenaturais e de ‘slasher’ pelos quais ele é mais conhecido. Não é possível que Aaron Paul só convenceu de verdade em ‘Breaking Bad’, pois talento ele tem, mas não passa em momento algum credibilidade como pai e lutador aqui em ‘Louis Drax’. A inconsistência é o que mais prejudica o filme, pois temos um início de história infantil, um mistério sobre uma tentativa de assassinato a uma criança e no meio de tudo isso um lado de fantasia, com uma criatura que vai ter sua importância para o filme, é verdade, mas que parece estar lá principalmente por uma conveniência de roteiro, para que o espectador não consiga desvendar o mistério com tanta facilidade. É uma pena, porque poderia ter sido muito mais do que apenas mais um candidato à programação do Super Cine daqui a alguns anos.

UM MOMENTO APIMENTADO: Sarah Gadon passando pelos corredores do hospital de vestido vermelho, como não olhar para aquela mulher?




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