Doze anos sem Marlon Brando: o maior astro do cinema

Eu assisti uma lesma rastejar pela lâmina de uma navalha e sobreviver. Esse é meu sonho. Rastejar pela lâmina de uma navalha e sobreviver.

A frase chocante dita pelo personagem Coronel Kurtz, um dos maiores papéis da carreira de Marlon Brando, no homônimo filme de Francis Ford Coppola Apocalypse Now (1979), pode ser interpretada como um reflexo da vida conturbada do genial ator de cinema e sex symbol de uma geração.  Nesta sexta-feira, completa-se doze anos da morte de Marlon Brando, considerado entre os melhores atores da história do cinema, senão o melhor, mas com uma vida pessoal tão explosiva quanto seu talento.

Nascido em 3 de abril de 1924, em Omaha, Nebraska, o ariano Marlon Brando Brando começou a chamar atenção atuando na peça de Tennessee Williams Um Bonde Chamado Desejo, que o levou a seu primeiro trabalho no cinema em 1950 com o filme The Men (Espíritos Indômitos).

Tornou-se um símbolo sexual no personagem ‘Stanley Kowalski’ de Uma Rua Chamada Pecado (1951), dirigido por Elia Kazan e com a presença da atriz Vivien Leigh no papel de Blanche DuBois. Brando foi indicado ao Oscar pelo filme, mas não ganhou. Ele ainda seria indicado mais três vezes nos anos posteriores, em Viva Zapata! (1952), Júlio César (1953) e em Sindicato de Ladrões (1954), quando levou sua primeira estatueta.

Em 1953, Brando virou um ídolo da juventude ao interpretar Johnny Stabler em O Selvagem. Líder de uma gangue de motoqueiros com jaquetas de couro, seu personagem marcou uma geração de artistas, desde James Dean a Elvis Presley.

Nos anos 60 fez alguns filmes controversos como Caçada Humana e Queimada!, o que desencadeou seu lado ativista em manifestações públicas a favor do Direitos Civis e dos Direitos dos Indígenas, tema que o levou a recusar um Oscar pelo grande papel de sua carreira, que viria interpretar na década seguinte.

 Marlon Brando em Nova Iorque com sua lendária moto leiloada em mais de R$ 1 milhão.

Os anos 70 trouxeram a consagração do ator com os clássicos O Poderoso Chefão, Último Tango em Paris e Apocalypse Now e tendo sido indicado para mais dois Oscar´s. Ao interpretar o sensível mafioso Don Corleone e vencer o Oscar, em 1973, Marlon Brando protagonizou um dos episódios mais polêmicos de sua carreira ao enviar uma representante dos povos indígenas para fazer seu discurso na premiação, protestando contra a forma que os Estados Unidos e Hollywood discriminam os povos nativos americanos.

Marlon Brando como Don Corleone, em O Poderoso Chefão, que lhe rendeu seu segundo Oscar.

Com o julgamento do filho Christian por assassinato do namorado da meia-irmã Cheyenne e que, deprimida, se suicidou poucos anos depois em 95, o ator desenvolveu sérios problemas psiquiátricos e se tornou cada vez mais isolado em sua ilha Tetiaroa, na Polinésia Francesa, durante os anos 80. Ao interromper sua carreira, Brando ganhou peso e problemas financeiros e só foi retornar ao cinema em 89.

Marlon Brando como Coronel Kurtz, em Apocalypse Now.

Falar sobre Marlon Brando é falar sobre uma revolução na história do cinema. Todas os grandes atores posteriores tiveram Brando como referência. Sua técnica de imersão na psicologia do personagem até o sofrimento pessoal, abandonando técnicas tradicionais e convertendo-se ao método de Stanislavski, é utilizada até hoje. Seu método o permitia ignorar os percalços de sua vida e se perder em seus personagens.

 Marlon Brando no filme ‘Último Tango em Paris’, de Bernardo Bertolucci.

Marlon Brando morreu no dia 1 de julho de 2014, aos 80 anos, no centro médico da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), com uma fibrose pulmonar. Em seu funeral do estiveram amigos próximos como Jack Nicholson, Warren Beatty e Sean Penn, e suas cinzas foram espalhadas nas águas do Taiti e nas dunas do Death Valley na Califórnia.

Dos homens mais influentes e polêmicos do século XX, Marlon Brando era impossível de ser definido, mas com uma vida tão rica e repleta de experiências únicas, certamente Brando nos definiu como à altura da genialidade de seu talento: “Somos todos atores”.

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