SINOPSE

“Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros” (2015) já era um sucesso de bilheteria anunciado, mesmo que nem todo mundo esperasse que desbancasse “Harry Potter e As Relíquias da Morte – Parte 2” (2011), do posto de estreia mais rentável da história, arrecadando mais de meio bilhão de dólares nos dois primeiros dias de exibição. Seu desempenho excepcional se deve mais a nostalgia, associada principalmente ao primeiro filme, do que as qualidades narrativas do longa-metragem de 2015, que ainda está muito aquém da obra de 1993. ‘Jurassic World’ está longe de ser uma produção perfeita, por ser desleixada com seu roteiro, diálogos, atuações e por consequência na sua construção de personagens, mas não deixa de ser uma deslumbrante diversão (principalmente se visto nas telas IMAX), que se apoia em seus efeitos especiais e no apelo que os dinossauros têm no nosso imaginário.

Mais de vinte anos após a construção do parque, a narrativa acompanha o personagem Owen Grady (interpretado por Chris Pratt), um adestrador de dinossauros que trabalha com Velociraptors. Paralelamente uma das administradoras do parque, Claire (Bryce Dallas Howard), está preparando uma nova atração para manter as visitações, que consiste num novo réptil geneticamente modificado, além de ter que lidar com a visita de dois sobrinhos que estão sob seus cuidados. Os caminhos dos dois personagens, que descobrirmos já se conhecerem, voltam a se cruzar, quando ela precisa de uma opinião sobre o comportamento do animal e tem de recorrer a Grady. A tensão e os perigos começam, quando ambos descobrem que o animal despareceu misteriosamente de sua jaula, colocando a vida dos visitantes e o futuro do empreendimento em risco.

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Construído num formato que continua a trilogia original e ao mesmo tempo a homenageia, se utilizando de alguns conceitos e reencenações do primeiro, ele é efetivo em agradar os fãs da franquia, que não se importam com os descuidos de sua produção. Os efeitos especiais são muito competentes e refletem um esmero em sua direção de arte, mas não são tão “tácteis” quanto os de “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros” (1993), que mesclava animatrônicos e efeitos gráficos, dando vida ao livro de Michael Crichton. Ainda assim é totalmente possível assistir ao filme e apreciá-lo, acreditando na realidade deste universo, no qual conseguimos imergir em um mundo repleto de bichos pré-históricos gigantescos.

A fotografia nos transporta por um “tour” esfuziante pelo “zoológico reptiliano”, que agora está aberto à visitação do público, de forma bastante convincente. A trilha sonora, que reutiliza os famosos acordes de John Williams, agora numa releitura de Michael Giacchino, também é efetiva em nos transmitir muitas das sensações que tivemos na primeira vez que entramos em contato com este universo. O maior mérito são os efeitos visuais que melhoram o que foi utilizado nos filmes anteriores, os atualizam para uma nova geração, mas que sozinhos não geram uma obra-prima do cinema. Apesar de deslumbrantes, as imagens que se projetam na tela, soam artificiais para expectadores mais exigentes, por falta de coesão no restante dos aspectos técnicos da produção.

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No geral, a direção de Colin Trevorrow se limita a reconstituir cenas e conceitos que remetem diretamente ao primeiro longa-metragem, assim como cenários e utensílios originais que são revisitados, introduzindo poucas novidades relevantes. Temos as crianças em perigo que têm apenas um vidro para separá-las de serem devoradas, as visitas aos laboratórios onde os “dinos” foram recriados, o carro que passeia em meio às atrações. Também a tensão romântica entre o casal principal, assim como um vilão que acaba fazendo com que o parque deixe de ser uma diversão, para se transformar em um safari da morte.

Evidente que num filme sobre dinossauros, eles devem ser a atração principal, pois é o fascínio que exercem sobre nós, que enchem os cinemas. Mesmo que os personagens humanos sejam interpretados por bons atores, eles sempre serão coadjuvantes nesta franquia e é assim mesmo que deve ser. No entanto, para construir uma narrativa envolvente, não é necessário manter os bichos em tela por todo o tempo, pois o próprio longa-metragem de 1993 não mostrava os animais em cena, por mais do que vinte minutos no total. A sugestão de que eles estavam ao redor, aparecendo em momentos pontuais, era o que construía o suspense que nos deslumbrava ao assisti-lo.

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Mas o fato de o elenco não ser o foco mais importante, não significa que o roteiro tem que criar diálogos e subtramas que não acrescentam nada a história e ainda ridicularizam a participação humana. Algumas cenas são construídas de forma pouco verossímeis, com atuações de alguns coadjuvantes que interpretam seus personagens de maneira desnecessariamente estereotipada, muitas vezes bagunçando o tom do filme. Ainda que a narrativa não tenha intenção de ser levada a sério, utilizando diversos momentos cômicos, a motivação e desenvolvimento do vilão é totalmente dispensável e a representação da figura feminina principal é no mínimo pouco desenvolvida. Isto dificulta a utilização de nossa “suspensão da descrença”, para aceitar algumas cenas pouco críveis, como a que Claire consegue fugir de um predador correndo de salto alto.

Claro que se você procurar nas entrelinhas da narrativa, até perceberá uma discussão metalinguística com a justificativa comercial que envolve a criação do longa-metragem. Assim como os espectadores que querem assistir mais filmes com dinossauros no cinema, o público fictício que frequenta o parque quer ver animais maiores, com mais dentes e mais assustadores. E essa ânsia grandiloquente, que quer tudo sempre “com mais e maior”, não se importando com a qualidade, faz com que os administradores do parque (ou os produtores do filme) criem um “monstro”, que pode sair do controle, ao mesmo tempo transferindo a responsabilidade de qualquer erro, para os consumidores.

O sucesso financeiro da produção assinada por Steven Spielberg não a legitima como um novo marco do cinema, que ofereça mais do que o êxito mercadológico. Em ‘O Mundo dos Dinossauros’, assim como nos criticados, “O Mundo Perdido: Jurassic Park” (1997) e “Jurassic Park III” (2001) os efeitos especiais são os únicos atrativos que os longas têm a oferecer, ainda que o de 2015 tenha evoluído bastante na aplicação da tecnologia. Claro que isso por si só já compensa o desembolso do ingresso, mas não deixa de ser um desperdício da chance de se construir uma narrativa verdadeiramente memorável para história da sétima arte, como ocorreu no início dos anos 90.

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