Pulp Fiction e a violenta realidade brasileira | Contém Spoilers!

Quentin Tarantino tem a violência como a sua marca registrada. Se tem algo que a direção de arte não economiza é no sangue. Haja sangue… Esses filmes são fortes e impactantes. Talvez um dos mais fortes seja ‘Pulp Fiction: Tempos de Violência’ lançado em 1994. Este longa foi um sucesso de crítica e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. O roteiro conta três diferentes histórias e todas bem violentas. Este filme se passa nos Estados Unidos, porém ele poderia ter sido rodado muito bem no Brasil nos dias atuais.

‘Pulp Fiction’ mostra a banalização da violência. Quase todas as cenas de violência são motivadas por situações banais. Inclusive uma cena de estupro. Tudo aquilo acontecia com enorme naturalidade no filme. Um marinheiro de primeira viagem poderia ficar espantado com um diretor fazendo tudo isso em um longa. Tarantino nunca teve medo de mostrá-la. A violência é da natureza do ser humano. Por que ele a ignoraria?

Se formos analisar a realidade brasileira, nós encontraremos muito de ‘Pulp Fiction’ por aqui. A violência domina o país. Estamos entregues a mafiosos poderosos, como o Marsellus Wallace, corruptos, como o Butch Coolidge, mercenários como Jules Winnfield e Vicent Vega e traficantes de drogas como o Lance. A população fica em meio a isso vendo os horrores que esses criminosos fazem. Tudo isso virou algo cotidiano e fez o absurdo se tornar rotina.

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Logo no início do filme Vicent e Jules comentam que Marsellus já jogou um homem de uma varanda do quarto andar apenas por ele ter massageado os pés de sua esposa. Quem nunca viu no Facebook um vídeo de um grupo de mulheres espancando uma outra por esta ter mexido com o ‘homem’ de uma delas? Ou mesmo um homem sendo morto por mexer com a mulher de outro? As pessoas assistem a vídeos assim enquanto almoçam, sendo que em qualquer outro lugar do mundo isso seria um absurdo.

Após Butch sair às pressas do local da luta, ele pede a Fabienne, sua namorada, fazer as malas e não esquecer o relógio que pertenceu a seu pai. Ela esquece. Depois de criar um estardalhaço, ele volta para pegar. No caminho ele encontra Marsellus, e ao tenta fugir provoca um acidente. Marsellus se levanta e, um pouco tonto, atira em Butch, mas acerta a uma mulher que tentava ajudar o boxeador. Ambos fogem e acabam sendo ‘raptados’. Então Marsellus é estuprado por um policial. Butch escapa, mas volta para ajudar Marsellus.

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Podemos comparar isso com os vários casos de estupro que infelizmente estão aparecendo por aí. E se até mesmo um homem corre o risco de ser pego e estuprado, quem dirá as mulheres? E ainda por um policial! A quem menos esperamos… Felizmente, ainda há casos em que o brasileiro se escandaliza. Um deles é o estupro, mas ainda assim as vítimas são culpadas e muitos casos acabam sendo abafados. Ninguém defende o estupro, mas ele acontece todos os dias. E nas situações que menos esperamos. E para finalizar, Zed, o policial estuprador, será morto nas mãos da população, digamos assim. Perfeitamente igual o Brasil.

Há um velho ditado que diz que a vida imita arte. Neste caso, ‘Pulp Fiction’ imita a vida. Esta obra-prima do cinema moderno mostra o quão bárbaro é a sociedade e como as pessoas agem com naturalidade em meio a isso. Fomos anestesiados pela violência que nos cerca. Jovens baleados, mulheres estupradas, crianças espancadas, assaltos a mão armada… Talvez a realidade brasileira seja mais leve em comparação a ‘Pulp Fiction’. Nem mesmo a arte pode imitar o que vivemos.

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