7,9/10

Como treinar o seu dragão (2025)

Director

Dean DeBlois

Genre

Aventura

Cast

Mason Thames, Nico Parker, Gerard Butler

Writer

Dean DeBlois

Company

Universal Pictures

Runtime

125 minutos

Release date

12 de junho de 2025

Quando uma ameaça coloca em perigo tanto vikings quanto dragões na ilha de Berk, a amizade entre Soluço, um viking inventivo, e Banguela, um dragão Fúria da Noite, se torna a chave para ambas as espécies construírem um novo futuro juntas.

A indústria de Hollywood já perdeu a vergonha há muito tempo. A cada ano, uma enxurrada de remakes, reboots e reciclagens tenta nos convencer de que estamos vendo algo novo. Não estamos. É o mesmo de sempre, embalado em novos efeitos, novos atores, e, quase sempre, com menos da metade da alma do original. Mas, de vez em quando, surge uma exceção. Como Treinar o Seu Dragão (2025) é uma dessas exceções.

Diferente de muitos remakes cínicos feitos por comitê, aqui há uma motivação legítima: o amor pela história. Não estamos diante de uma reinvenção desnecessária, mas de uma releitura cuidadosa — e principalmente, carinhosa — de uma obra que já nasceu com coração. Dean DeBlois, que já dirigiu a animação original de 2010, volta ao leme, o que já explica muito da sensibilidade preservada.

Visualmente, o filme é um espetáculo. A fotografia é impecável, com planos aéreos de tirar o fôlego. As cenas de voo — agora em CGI realista — são hipnotizantes e justificam, sem nenhuma dúvida, a escolha de assisti-lo numa sala Imax. Na tela grande, a profundidade de campo, os detalhes de luz e os contrastes de cor transformam as sequências em pura poesia visual. São cenas feitas para serem vistas grandes, e para serem sentidas.

O elenco também funciona. Mason Thames, no papel de Soluço, consegue capturar a vulnerabilidade e o crescimento do personagem de forma convincente. Nico Parker dá uma Astrid com boa energia e presença. O restante do elenco entrega o que precisa ser entregue — e sem deslizes. Agora, é inevitável mencionar a questão étnica: sim, estamos falando de uma vila viking, perdida em algum canto do norte europeu, onde seria difícil, convenhamos, encontrar tamanha diversidade étnica no século IX. Mas representatividade é uma necessidade dos dias de hoje. E quando a história é bem contada, isso passa, com justiça, para o segundo plano.

Mas talvez o maior desafio — e a maior vitória do filme — tenha sido transportar os dragões da animação estilizada para um CGI hiper-realista. Banguela, em sua nova versão, carrega um realismo anatômico mais “crível”, mas não perdeu o charme. As expressões, os olhares, os movimentos — tudo foi recriado com um nível de detalhe que transborda respeito pelo personagem. A variedade de dragões, com suas texturas, formas e comportamentos distintos, só ressalta o quanto outras franquias poderiam aprender aqui. Que o digam os fãs de Harry Potter, que ainda se lembram com certo constrangimento da sequência plástica e genérica da primeira tarefa de O Cálice de Fogo. Tomara que a vindoura série da HBO, em sua quarta temporada, tome notas com a equipe de Como Treinar o Seu Dragão.

Quanto à história: sim, é praticamente a mesma. E ainda bem. Porque é boa, emociona, te envolve — e cumpre aquilo que, no fundo, todo espectador busca: uma narrativa capaz de conectar. Vivemos num oceano de produções. Há literalmente dezenas de milhares de filmes que já foram feitos na história do cinema, mas o acesso a tudo isso é ilusório — ninguém tem tempo, nem curadoria suficiente, para revisitar o que ficou para trás. Quinze anos é, objetivamente, pouco tempo para um remake. Mas foi o suficiente para reacender uma história com alma, e apresentá-la com vigor renovado a uma nova legião de pessoas.

Diferente de tantos remakes esquecíveis, Como Treinar o Seu Dragão (2025) é feito com cuidado, com amor, com propósito. Conta uma boa história, entrega momentos belíssimos, e nos lembra por que ainda vale a pena ir ao cinema. Um surpreendente acerto.

10

Mission Accomplished

en_US