EXORCISMO SAGRADO | UMA CRÍTICA À IGREJA COM HOMENAGENS AOS CLÁSSICOS DO TERROR

Se falar do gênero de terror sem falar de O Exorcista é quase impossível, falar de “O Exorcismo Sagrado” sem mencionar o clássico é mais impossível ainda. O novo filme de Alejandro Hidalgo é altamente inspirado e influenciado pelo O Exorcista, podendo ser considerado uma bela homenagem ou até mesmo uma cópia, dependendo do seu ponto de vista, já que a linha que as separa é muito tênue nessa situação. Além do Exorcista e de Invocação do Mal, as duas inspirações mais óbvias, O Exorcismo Sagrado pega emprestado diversos elementos de muitos outros clássicos do gênero, mas o diretor chileno consegue acrescentar detalhes que trazem originalidade e peculiaridade para o filme.

A cena de abertura já nos remete imediatamente à cena mais famosa de exorcismo do cinema. Assim como em O Exorcista, uma mulher se encontra possuída por uma entidade do mal e um padre é chamado para salvar sua alma. O padre em questão é Peter Williams (Will Beinbrink), ele não está preparado para performar um exorcismo desse porte, muito menos sozinho, mas acredita que é a única chance da mulher e se aventura mesmo assim. O demônio que ali habita sente sua fragilidade e se aproveita dela para seduzir e possuir o padre (que aparentemente já tinha uns pensamentos não muito santos) e é através do corpo dele que o demônio estupra a mulher que esteve possuída. Para piorar a situação para o padre, o exorcismo estava sendo gravado e, consequentemente, o crime do estupro também. Ao voltar a si e Tendo de escolher qual caminho percorrer, Padre Peter opta por apagar o vídeo e esconder qualquer traço de seu crime.

Ele se isola e dedica sua nova vida a ajudar aos necessitados, vivendo e sendo visto como uma espécie de anjo benfeitor, mas 18 anos depois do ato do exorcismo, descobre que seu pecado nunca fora apagado de fato e traz consigo não só as consequências dos atos do passado, mas também uma luta muito maior entre “o bem e o mal”. A partir daí uma série de possessões, suspense e sustos fazem o restante do filme.

O personagem principal poderia ser a parte mais interessante do filme. O Padre Peter é, desde o início, um personagem ambíguo e controverso, e mesmo sabendo que estava sob domínio de um mal maior quando cometeu seu crime, ainda passa a impressão de que se perdoou rápido demais. Sua devoção à religião e à igreja católica são colocadas em xeque de forma inteligente, mas sua personalidade carece de uma complexidade mais profunda, resultando também num personagem pouco carismático e que não estimula uma torcida por parte do espectador. Apesar de haver uma boa quantidade de personagens coadjuvantes, eles também falham em serem interessantes, com exceção do Padre Michael Lewis (Joseph Marcell) que é um superior de Padre Peter na igreja e traz um bom resultado com o pouco que lhe é dado.

O filme peca no mesmo fator que a maioria dos filmes de terror: o excesso gráfico. Apesar de também se utilizar do suspense, pouca iluminação e movimentos de câmera para os sustos, faz uso de imagens grotescas das mulheres possuídas e até mesmo uma versão aterrorizante de Jesus, numa mistura de maquiagem e CGI que podem causar um medo à primeira vista, mas acabam ficando banais quando passam mais tempo em foco e o terror depende mais das cenas de susto que acontecem com considerável frequência.

A questão do tabu da sexualidade em relação à igreja católica está presente desde a primeira cena, mas é só no terceiro ato (que também é cheio de ação) que fica mais evidente a intenção de Hidalgo de criticar os escândalos e a igreja num geral. É uma crítica ousada, nada discreta e corajosa, mesmo que não tenha sido desempenhada com tanta perfeição – uma fala específica de um padre no final do filme deixa um gosto amargo e abre espaço para questionar as escolhas de Hidalgo.

O Exorcismo Sagrado não é um filme extremamente necessário ou original, mas faz bom uso dos elementos já existentes e reproduzidos por outros filmes do gênero e traz uma linha de pensamento pouco explorada, ainda que muitas vezes presente.

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