OS SEGREDOS DE DUMBLEDORE | J.K. ABANDONA A AVENTURA E ABRAÇA A POLÍTICA DE FORMA MAIS EXPLÍCITA DO QUE NUNCA

Desde o seu lançamento em 2016, a franquia “Animais Fantásticos” teve medo de ser um verdadeiro spin-off de “Harry Potter”. Isto fica claro quando vemos a inserção do bruxo Grindelwald na trama de Newt Scamander de forma quase forçada, e já assumindo o título do segundo longa. E enquanto “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é um belíssimo spin-off com uma história com começo, meio e fim, sua sequência “Os Crimes de Grindelwald” declara a abertura de uma trama maior, já estabelecida nos livros e filmes de Harry Potter, deixando pouco espaço para Newt e seus amigos humanos e não humanos. E embora seja triste para estes personagens, “Os Segredos de Dumbledore” os abandona por completo para se assumir como um preâmbulo (ou prequel) de Harry Potter e não mais uma história parelela.

O roteiro de J.K. Rowling é o mais adulto até então, com pouco espaço para agitação ou sequências “aventurescas”. Trata-se de uma história política, com referências nada sutis aos acontecimentos que antecederam a Segunda Guerra Mundial mesclados, de forma muito irônica, com acontecimentos recentes da história do Brasil. Sim, o Brasil está representado no longa (infelizmente não da forma como foi insinuado durante entrevistas e produções) e bons entendedores verão muito mais do que apenas a presença de Maria Fernanda Cândido nas inteligentes mensagens deixadas por Rowling.

A escritora e roteirista, uma mulher engajada nas causas em que acredita, não teme dizer o que pensa publicamente e nem inserir detalhes sobre isso em suas histórias. Suas recentes “polêmicas” são introduzidas no terceiro longa no arco do personagem Jacob, um nascido trouxa que mesmo no poder de uma varinha falsa, não será jamais um bruxo e isso não tira a sua importância e o seu valor. E já que ele foi mencionado, vale ressaltar que Dan Fogler continua gracioso em seu papel, com uma atuação divertida para quebrar o gelo da trama pesada.

Outro que merece ser reconhecido por sua atuação é Mads Mikkelsen, porém o diferente tom que ele entrega ao personagem, destoando do injustiçado Johnny Depp, deixa um gosto amargo naqueles que prezam pela continuidade, pela boa atuação de Johnny e claro, pela justiça e não o tribunal da internet. E finalizando as polêmicas ao redor do filme, Ezra Miller – envolvido em condutas violentas e questionáveis – entrega o seu pior desempenho, em comparação aos longas anteriores, o que é uma pena, dado os rumos que a história o leva.

Eddie Redmayne continua brilhante como Newt, apesar de pouco espaço para o desenvolvimento do seu personagem. E Alison Sudol, Queenie, consegue equilibrar o doce e o sombrio que permeiam o seu personagem de uma forma encantadora. E é uma pena que Katherine Waterston, Tina, tenha ficado de fora da trama, independente das razões que culminaram neste desfecho.

Em relação à produção, não há o que dizer. Assim como os 10 filmes precedentes, a qualidade da direção de arte, figurino, efeitos especiais e trilha sonora é impecável. E mesmo os tropeços no percurso, é sempre um prazer voltar ao mundo bruxo de J.K. Rowling.

“Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” já está nos cinemas.

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