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Impossível não assemelhar “Cinco Graças” de Deniz Gamze Ergüven com o ótimo “As Virgens Suicidas” de Sofia Coppola. As duas diretoras estrearam em longas sobre superproteção que passa dos limites nos quais cinco irmãs são trancadas em casa sem poder interagir com garotos. Em ambos os filmes, vemos as ninfetas sofrendo o mais dos primatas modos de lidar com a rebeldia juvenil: trancafiando e privando as garotas de viver como jovens de sua idade. Mas no caso de “Cinco Graças”, a coisa é bem mais séria porque elas deixam de ser adolescentes para aprender como ser donas de casa, tirando suas liberdades.

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Exibido no Festival de Cannes sendo laureado com um prêmio especial, foi também uma das gratas surpresas no Festival do Rio em 2015 e em outros como Odessa, Sarajevo e Melbourne. Também foi exibido no Toronto Inernational Film Festival e por onde passa é enaltecido.

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No início do verão em uma aldeia no Norte da Turquia, cinco irmãs órfãs estão a caminho de casa no último dia de aula. Elas decidem ir à praia junto com uns garotos e decidem brincar de modo aparentemente inocente. Considerado um jogo imoral, as moças são surradas e a casa vira uma prisão e lhes é tirado tudo o que é considerado promíscuo para que não hajam como prostitutas, segundo seu tio (maquiagens, computador, celulares e roupas curtas). Passam a usar ‘túnicas cor de merda’ como narra Lale, a mais revoltada. Como se não bastasse tirar delas os prazeres da adolescência e isolar a casa, elas têm lições de como se tornarem donas de casa – com ajuda de suas tias que vêm para ensinar serviços domésticos – são obrigadas a casar às pressas para não ficarem com má fama.

Elogiado pela crítica e ovacionado pelo público, este merecimento deve-se também pela forma delicada como é discutido o tema e a reação das meninas ao não aceitarem ser tratadas como se não tivessem o direito de escolha. Mas na verdade, elas não têm, já que se trata de um país conservador e machista e além disso, são menores de idade. O filme baseia-se exatamente nisto: no rigoroso controle do sexo feminino e o jeito amotinado como elas se comportam diante de tanto autoritarismo. Também por este motivo as graciosas meninas são submetidas a humilhação de fazer teste de virgindade. Mas um fato curioso é que as irmãs que de puras, meigas e ingênuas, agora são vistas como indecentes, sedutoras e perigosas. Se tornam prisioneiras sob acusação de lascividade das quais não praticaram – exemplo disso é quando inocentemente tentam roubar maçãs com os garotos, também pesam sobre elas imputações de atos libidinosos.

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Filmado nas belas paisagens do Mar Negro na Turquia, ‘Cinco Graças’ oferece mais que fascinantes locações paradisíacas. Há piadas de humor negro ironizando o modo como a figura feminina é tratada e até mesmo uma pitada de suspense quando Lale decide fugir com suas irmãs para assistir de perto uma partida de futebol composto só por mulheres. Afinal, como ela mesma diz: ”Tudo mudou em um piscar de olhos” e já que estão vivendo como prisioneiras em suas próprias casas, um castigo a mais não faria diferença já que ninguém iria tirar delas a experiência de ter um divertimento que jamais seriam concedidos por seus responsáveis.

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São cenas como estas que fazem o espectador sentir junto a elas, o gostinho da ousadia, pois almejam apenas recuperar suas vidas normais. Apesar de ser filmado na Turquia e falado em seu idioma de origem, é considerada uma produção francesa e se caso houver uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro, o país que irá representá-lo é a França.

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Transitando em meio a costumes rígidos e a preocupação com as aparências mascaradas para encobrir o que consideram impróprios, fala também de desejo de ser livre para fazer escolhas. A história é interessante e reflexiva, porém é um grito de liberdade figurado em garotas que não tem a quem recorrer. Se não há igualdade dos direitos para ambos os sexos num país conservador, a opressão é algo predominante diante da fraqueza e do desamparo que as meninas têm (mesmo se tratando da Turquia, um país islâmico ”liberal”). Sendo assim, na condição de ter as descobertas e a satisfação em ser adolescente bloqueadas, encará-las como mudança é assustador e passará a ser parte da rotina, na forma de criticar a submissão e hipocrisia num filme contundente valorizado pelo roteiro genial e com êxito consegue não fazer o espectador transigir com as crenças ou ideologias seja da parte das jovens ou de seus abonatários para apreciá-lo.

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